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Crônicas
10/02/2005 - 07h00
Da ficção à realidade
Eliane Maria Arruda Silva - Agência Carta Maior
 

Do local onde me sento, ao lado de uma janela para digitar os meus textos no microcomputador, vejo apenas uma nesga da rua onde moro em Fortaleza. Eleva-se, logo em frente, bastando atravessá-la, o prédio de um hospital. Se morar em frente a um hospital com médicos de plantão a qualquer hora tem suas vantagens, por outro lado tem também as suas desvantagens.

Imagine o que é acordar de madrugada e, por acaso, dirigindo-se à janela, defrontar-se com o carro da funerária! Com pessoas tentando colocar dentro dele um "caixão de defunto"! Embora morto não faça mal a ninguém, possibilidade maior e certa dos vivos, não acredito que um ser humano normal possa sentir-se bem, ou mesmo, indiferente, diante de um cenário fúnebre, mesmo o do pior inimigo.

Ele muda sim, nem que seja por alguns minutos, o humor do mais descontraído cristão, e pensamentos, não sei se soturnos ou realistas, começam a dar as suas bafejadas. Acredita-se então que materialmente ninguém é nada neste mundo, que a vida é tão frágil como uma simples vela acesa, podendo um vento mais forte ou traiçoeiro apagá-la de uma hora para outra. Finge-se interiormente que se aceita essa dura realidade.

Outro dia, um caso pitoresco chegou-me aos ouvidos. Logo bem cedo, ia saindo para o trabalho. Abordou-me "o flanelinha" (pessoa que lava e limpa carros) e me disse meio assustado:

- Sabe o que aconteceu? Hoje de madrugada, morreu um velho, e quando chegou a funerária que foram colocar ele no caixão, viram que estava vivo, e ele voltou para a UTI.

Sorri, intimamente, por saber que o flanelinha, mesmo assíduo freqüentador da Igreja Universal, é chegado a uma gostosa "pinga", e aquilo poderia ser algum efeito da bebedeira do dia anterior, um domingo. "Ora, ora, parece até coisa do programa do Renato Aragão"! pensei. Fui trabalhar, e o episódio do velho que seria enterrado vivo misturou-se bem fácil ao rol das coisas esquecidas.

Na tarde do outro dia, estando eu no portão da minha casa, eis que um dos funcionários do hospital passa diante de mim. Nessa hora, lembrei-me da história contada pelo João e perguntei-lhe:

- É verdade o que me contou o João, ou estava de porre? E narrei-lhe o fato.

O funcionário sorriu ouvindo o episódio e confirmou:

- É verdade sim, o velho ainda está na UTI.

Fiquei pensando na possibilidade de converter o estranho fato numa página literária, pincelando-a com todos os floreios da literatura, pois se pusesse a verdade no papel, ninguém iria acreditar, por causa da minha tendência de "criadora de histórias", todos iriam pensar que se tratava de mais uma das minhas ficções. Esse, no entanto, foi um fato do cotidiano do hospital para onde olho todo dia.

Ainda algum tempo, o velho ficou na UTI, até que, poucos dias depois à hora do almoço, foi o João quem deu a notícia:

- Dessa vez, o velho empacotou mesmo, morreu hoje de madrugada!

Não havia mais motivo para não acreditar no João.

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