Ao mesmo tempo em que o FMI (Fundo Monetário Internacional) chama a atenção do Brasil para a necessidade de cuidar da inflação, a Petrobras pressiona pela alta no preço dos combustíveis. Todas as vezes que a gasolina, o etanol e o diesel sobem na bomba, o reajuste tem repercussão direta no custo de vida, pois todas as pessoas, mercadorias e serviços dependem do transporte, integralmente movido a combustível. Criada há quase 60 anos, a estatal petrolífera, parcialmente privatizada pelo governo neoliberal, ainda continua como uma ilha econômica e hoje busca por majoração de preços como faria qualquer empresa privada. Apesar da campanha pelo reajuste na bomba, os combustíveis brasileiros têm preços elevados. A gasolina, por exemplo, é mais barata do que na Europa, equipara-se ao Japão e é mais cara do que na Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, Rússia e outros países. De nossos vizinhos sulamericanos, só o Uruguai tem gasolina mais cara que o Brasil, e alguns desses países, vendem (mais barato que aqui) a mercadoria importada do Brasil. Os preparadíssimos executivos e dirigentes da Petrobras certamente têm os mais sólidos argumentos para defender o reajuste e pressionam com a moeda de troca política, ameaçando deixar de investir na construção de refinarias no Ceara e Maranhão e no complexo petroquímico do Rio de Janeiro. Com isso, criam dificuldades para o governo federal em relação àqueles estados. É preciso entender, no entanto, que uma empresa como aquela, construída com os recursos do governo - que são do povo - tem de estar à serviços do país e não de si própria. Seus resultados têm de atender mais às necessidades da sustentabilidade nacional do que aos seus próprios interesses. O ideal é encontrar o ponto de equilíbrio mas, nunca, jamais, penalizar o país inteiro para manter o glamour da ilha da fantasia. O povo brasileiro já pagou muito para implantar a empresa e, agora, nada mais justo que desfrutar um pouco desse investimento. Se fosse para a sua empresa comportar-se como uma típica organização privada, talvez tivesse sido melhor ter deixado tudo por conta das ideologicamente combatidas “sete irmãs” do setor petrolífero. Espera-se firmeza da presidente Dilma e do ministro Guido Mantega. Para se conceder reajuste aos combustíveis há que se levar em conta o interesse da economia nacional, não os da Petrobras. Esta, sim, tem de se curvar ao interesse maior. Não é a simples oscilação do óleo no mercado internacional que deve presidir o aumento interno dos preços. Precisa levar em consideração a matriz histórica de preços e verificar, inclusive, de que forma se chegou aos valores hoje praticados. Da mesma forma que os bancos hoje são levados a reduzir juros e as energéticas a diminuir tarifas de eletricidade, a Petrobras também deveria ser compelida a abrir mão de gorduras e procedimentos que tornam o seu produto tão mais caro do que o similar de dezenas de países, inclusive os praticados no capitalista EUA... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|