Farto de interfaces, conectores, entradas disso e saídas daquilo, o imberbe Jo-Jo Gut, nascido Johannes Gutenberg, promete pôr fim às invencionices estéreis de Zuckerberg, Gates e outros tolos informáticos que pensam ter concebido produtos e sistemas de alguma relevância para a humanidade. Tímido, recluso e humilde como todos os gênios de verdade, o alemãozinho Gutenberg, mais conhecido como #gut no twitter, criou algo realmente revolucionário. Uma espécie de tábua que imprime textos e imagens diretamente sobre papel, sem necessidade do computador e de periféricos como impressora, scanner, cabos USB, discos graváveis, cartões de memória e outros mecanismos dispendiosos que interligam a plataforma em que se trabalha ao resultado final. Analisando o processo atual - e insuportavelmente arcaico - de geração de um arquivo, vemos o quanto representa essa evolução. Observe os passos necessários para que se produza qualquer coisa utilizando os retrógrados recursos de que hoje dispomos: - Ligar o estabilizador; - Acionar o filtro de linha; - Inicializar o computador; - Fazer a varredura do antivírus e proceder à sua atualização via web; - Gerar o texto em um programa editor; - Gerar imagem em outro programa separado para depois juntá-la ao texto, numa sequência composta de diagramação e editoração; - Uma vez pronto, salvar o arquivo - se possível providenciando um backup para o mesmo; - Ligar a impressora e aguardar até que esteja pronta, verificando antes a alimentação de papel e tinta; - Dar o comando de imprimir. Agora, o genial atalho do Gutão: - Prancha coberta de tinta e prensada sobre papel branco. Só, mais nada. Nesses nossos tempos atrasados, os gadgets sem fio e de operação remota proliferam como ratões do banhado. Mimos caríssimos e de serventia duvidosa, que entram no mercado de consumo já pré-programados para que se tornem obsoletos em menos de três meses. E somos coagidos a levar debaixo do braço uma ou mais dessas horrendas traquitanas para que possamos nos comunicar, nos expressar, trabalhar e nos divertir. Chamam a isso de mobilidade. Mas a mobilidade que rompe paradigmas é aquela que o visionário Gutenberg nos presenteia, através dos tipos móveis. Com o simples toque dos dedos, qualquer criança vai mudando as letrinhas da prancha e formando palavras e textos, a seu bel prazer. Quando impresso o trabalho - repito, sem nenhum equipamento complexo, que exija programas ou aplicativos -, as mesmas letrinhas são reorganizadas a fim de formarem uma mensagem diferente, de maneira lúdica, interativa e descomplicada. Em entrevista recente, Gut profetiza o fim das redes sociais nos velhos e desgastados moldes que as tornaram populares - com avatares de pixels, perfis mentirosos, amigos que não se conhecem e outros barbarismos dos tempos das cavernas. Diz ele: "Literalmente, é hora dessa conexão cair e do ser humano perceber o quanto é estreito aquilo que denominamos banda larga. É chegada a hora e a vez da imprensa, do contato real e direto, que aproxime os homens dos seus semelhantes”. Em seguida, passou uma mão de tinta na sua tábua, prensou sobre uma folha de papel e exibiu aos jornalistas a mensagem: “O futuro começa agora”.
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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