O governo senta-se à mesa com a organização guerrilheira Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em busca da cessação das hostilidades, que já duram cinco décadas. Cuba afrouxa as leis de imigração e abre timidamente o direito de propriedade aos seus cidadãos. Espera a suspensão do bloqueio internacional que sofre desde os anos 60, quando, sob a proteção de Moscou, “exportava” a guerrilha. O mundo deixou de ser movido pela guerra fria entre direita e esquerda e agora luta pelo equilíbrio econômico, já que a aldeia global tornou-se realidade. Independente de ideologia, credo ou etnia, os mercados sobem e descem instantaneamente, provocando tanto a prosperidade quanto a derrocada. Tanto que se vive à reboque da outrora atrasada e fechada China, que se mantém socialista, “pero no mucho”. As questões econômicas têm peso importante no relacionamento entre as nações, que constituem blocos de interesses e, mesmo assim, acabam divergindo dentro dos próprios blocos. Para nós, brasileiros, está aí o Mercosul, que se move lentamente e hoje tenta digerir a troca de governo no Paraguai, a admissão da Venezuela e questões de protecionismo entre os membros. Não é difícil que a Colômbia em breve também venha a fazer parte do bloco, principalmente se conseguir o armistício com as Farc. As questões que levaram o mundo às duas guerras mundiais hoje são resolvidas na mesa de negociação. Não até pela eficiência dos organismos internacionais, mas pela letalidade das armas e sistemas hoje disponíveis; numa nova guerra mundial não sobraria ninguém vivo. Mas os países têm hoje a guerra interna e não declarada como grande problema. Grupos e facções surgidos na própria sociedade dominam territórios periféricos, sistemas prisionais e até áreas de produção, desafiando e confrontando o poder estatal e - o pior - escravizando populações. Pela sua própria natureza jurídica, o poder estatal é único e indivisível. Tudo o que não estiver na sua conformidade é ilegal e deve ser combatido e eliminado. Facções criminosas, milícias e outros grupos ilegais só existem devido a omissão do Estado, que deu chances para seu surgimento e crescimento e, no presente, não tem interesse ou força para eliminá-los. É preciso buscar as soluções. Não basta a ação policial e até a condenação judicial dos integrantes. Os governos precisam, com toda urgência, identificar a raiz dessas forças contestatórias e implementar a solução a partir da origem. Pouco ou nada adianta encarcerar o miliciano, o traficante ou o criminoso sem ter eliminado o motor de seu negócio ilícito. Quando ele vai preso, outro assume seu lugar, e a atividade continua. Todos os governos devem aos seus cidadãos um habitat onde possam viver, produzir e ser úteis. Até os criminosos de hoje merecem a oportunidade de ser recuperados para poderem voltar a viver como cidadãos válidos da sociedade organizada... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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