Gente entusiasmada, boazinha, confesso, deixa-me entediado. Na verdade, desconfio argutamente de todos aqueles rostinhos que tanto se esforçam em mostrar o quando que eles são legais. Gente muito bacana me dá medo. Pra falar a verdade, sete tipos. Por favor, não me entendam como um sujeito azedo, de mal com a vida. Imagino que não o seja. O que professo nestas linhas é que o sinal mais claro da crueldade demasiadamente humana são rostinhos que procuram a todo o momento dissimular aquele sorrisinho de paisagem. Hoje, mais do que nunca, esquecemo-nos que o mal não se apresenta de maneira abrupta, confessando diretamente as suas turvas intenções. Este, por definição, caminha de mãos dadas com a boniteza forçada. O bicho é safado, sedutor, atrai-nos sempre através de nossas fraquezas que não são poucas, diga-se de passagem. Aliás, nisto a sabedoria popular é pontual quando declara que quem vê cara não vê coração e como, atualmente, desaprendemos essa técnica, se assim podemos chamar, de enxergar para além das aparências. Para ser franco, tanto desaprendemos como desdenhamos esse refinado discernimento. Muito disto deve-se aos alicerces relativistas da cultura contemporânea. Se tudo é relativo o único ponto absoluto que passa a ser reconhecido é a nossa relativa e parca percepção da realidade. A presença total da realidade dá lugar à superficialidade do olhar que facilmente encanta-se com as lindezas aparentes. Deste modo, abandonamos o senso do real, viramos as costas para a presença da Verdade e apegamo-nos a qualquer sensação ilusória e prófuga, como nos lembra o Beato Papa João Paulo II. Não existe nada mais superficial e ilusório do que pessoas esforçadas em parecerem boazinhas e progressistas. Para elas, a verdade não é a realidade. No entender delas, a verdade é o seu olhar minguado sobre a realidade. No fundo, toda essa casquinha de verniz relativista (politicamente-correto) é indispensável a essas pessoas para ocultar a sua face ressentida, para camuflar o seu rancor original. Casquinha que facilmente trás à luz a leviandade que habita o fundo destas carcomidas almas que vêem a presença do mal em todos, menos nelas, que percebem a corrupção em todos, menos em seus corações e que, com seus dedos, apontam as contradições das instituições sem atinar para o próprio reflexo presente na superfície do objeto de sua repulsa. Essas almas sebosas são extremamente hábeis em criticar tudo, menos a si mesmas e, quando o fazem, assim procedem para melhor justificar a sua pseudo-superioridade. Sim, há um pouco da presença desta súcuba em cada um de nós. Aceitar essa realidade é o primeiro passo para deixarmos de ser uma ninharia (des)humana travestida de bom-moço para sermos simplesmente alguém que aceita o desafio de viver a realidade em suas agruras no sentido pleno da palavra.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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