Quem viveu os movimentos pela redemocratização pós 64, presenciou FHC, Lula, Brizola, Tancredo, Ulysses Guimarães, Luiz Carlos Prestes e inúmeras figuras classificadas como (algumas mais outras menos) adversárias do regime militar, juntos no mesmo palanque a pregar um Brasil novo, mais desenvolvido, justo e solidário. Seus pronunciamentos inflamados davam ao povo a falsa impressão de que bastaria a democracia para termos resolvidos todos os problemas nacionais. Já enfraquecidos, os militares se retiraram e esses senhores assumiram o poder, aplaudidos pelo povo e incensados pelos intelectuais. Primeiro veio Sarney que, habilmente, saltou do barco que afundava para o que começava a viagem, e ainda teve a sorte do comandante Tancredo morrer e para ele deixar o comando. Fez um governo populista, tentou acabar com a inflação por decreto e entregou o país, com Constituição nova, ao sucessor - Fernando Collor, o caçador de marajás - que não conseguiu terminar o mandato. Seu vice, Itamar Franco, fez o mandato-tampão e, no decorrer, criou a URV e o Real, que serviram de base para conter o processo inflacionário. De Collor sobrou apenas a abertura dos portos para a globalização, que ocorreu em larga escala nos dois mandatos de FHC. O até então temido esquerdista Lula veio a seguir e fez, também, dois mandatos, com política econômica muito parecida com a do antecessor e forte viés popular, que o credenciou a eleger a sucessora. O Brasil de hoje não chega a ser aquele que os ditos democratas da redemocratização prometiam. A inflação foi contida, a economia cresceu, a renda da população pobre melhorou tanto pela recuperação do salário mínimo quanto pelas discutíveis e eleitoreiras benesses que o governo distribui. Deixamos de dever ao FMI, mas devemos muito internamente. Conseguimos até nos safar da crise que desde 2008 inferniza o mundo desenvolvido. Mas esse Brasil atual ainda está muito longe do sonhado. Se, por um lado, a economia cresceu, a distribuição ainda é desigual e os índices sociais são sofríveis. Todos os avanços que se pretendeu implementar na Saúde, Educação e Segurança Pública, foram em vão. O brasileiro de hoje vive o estresse de, nem pagando, encontrar o devido atendimento médico-hospitalar; de ver seus filhos sem aprendizado escolar condizente; e de ser obrigado a viver cercado de grades como as das prisões, pois a segurança pública é precaríssima. Vivemos dois Brasis. O da democracia e da economia, que serve de propaganda para o governo, e o da Saúde, Educação e Segurança Pública, tão ruim que chega a colocar em dúvida a validade da vida democrática. É preciso resolver, urgentemente, esse viés negativo que as práticas das últimas três décadas reservaram ao povo e, principalmente, à juventude brasileira. O cidadão comum não pode continuar sofrendo a dor de não ter como cuidar da família e bem encaminhar seus filhos. Nossos jovens não podem continuar cooptados para o tráfico de drogas e a criminalidade. Todos aqueles senhores que fizeram a redemocratização hoje devem isso à sociedade brasileira... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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