A falta de coletes balísticos na PM paulista, noticiada pela grande imprensa, é um problema grave. Especialmente neste momento em que grande número de policiais é atacado por criminosos. A solução encontrada pelos comandos para fazer frente à escassez do equipamento de segurança - transformar o colete em peça de rodízio em vez de individual - expõe a tropa a risco permanente pois o exemplar utilizado por cada um não se adapta, podendo ser maior ou menor que o corpo do usuário. Também ocorre a exposição a risco na ida ou volta do trabalho, justamente quando muitos deles são vitimados. Fornecer colete, arma, viatura e logística para o trabalho do policial não é nenhum favor. Esse profissional é exaustivamente treinado às expensas do Estado - um ano para a formação de soldado e pelo menos quatro para ser oficial - para prestar um bom serviço de segurança à comunidade. Mas fica impedido de fazê-lo na sua plenitude e, para cumprir sua tarefa, é obrigado a se expor a riscos desnecessários em decorrência da incompetência do Estado, o seu mau patrão. Justifica-se que os coletes passaram a faltar na polícia paulista depois que muitos foram recolhidos por já se encontrarem com o prazo de validade vencido e que houve problema na licitação para a compra dos novos. É preciso não perder de foco a responsabilidade do Estado e dos seus governantes para com a manutenção dos serviços essenciais, que não podem parar e nem periclitar em hipótese alguma. Os responsáveis pelas compras do Estado deveriam, obrigatoriamente, estar atualizados com o melhor equipamento existente no mercado para cada tarefa e manter um estoque estratégico de cada item, para evitar sua falta em qualquer situação. Quanto aos coletes hoje usados pela PM, é bom lembrar que são obsoletos, pois não protegem áreas vitais como virilha, pescoço, cabeça, deixando-os à merce de miras telescópicas e inclusive a laser das armas dos bandidos. Nossos formuladores da política de segurança deveriam conhecer os modelos usados pela polícia alemã que, devidamente “tropicalizados”, poderiam servir muito melhor aos policiais paulistas. Os serviços não podem parar por um minuto sequer, pois deles depende a manutenção da ordem e sua correta prestação ou não representa a diferença entre a vida e a morte, tanto de policiais quanto de cidadãos. Obrigar policiais a saírem no enfrentamento do crime com peças inadequadas é expô-los à certeza do risco e, concomitantemente, baixar a sua eficiência profissional. No momento em que está preocupado com o colete apertado ou folgado, que deixa vulneráveis partes de seu corpo, o soldado pode perder o foco do seu trabalho e, num momento crítico, tanto matar quanto morrer. Isso é uma situação desumana e, numa análise mais fria, até perdulária, pois baixa a eficiência de um profissional em cuja formação se investe elevadas somas de recursos públicos, oriundos dos impostos pagos por cada um dos cidadãos. Senhor governador, polícia não é brinquedo. Seus equipamentos - coletes, armas, viaturas e logística - têm de ser os melhores e em condições ideais de uso. Fazer o policial, mal equipado, enfrentar criminosos armados até os dentes, com forte poder ofensivo e, principalmente, beneficiados pelo elemento surpresa, é uma pena de morte disfarçada. O Estado não pode, jamais, negligenciar em seu dever de provedor. Nada pode ser deixado para depois na Segurança Pública, assim como na Saúde, Educação, Abastecimento e em outras áreas onde a inoperância produz a desagregação social, o sofrimento e a própria morte... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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