No especialista
Cansado de toda aquela situação que vivia e dos insucessos nas investidas com o seu companheiro Coruja, Alcapone decidiu procurar a ajuda de um advogado que pudesse resolver de vez o seu problema. Acessou uma página de pesquisas na internet e conseguiu o nome de vários advogados especialistas no assunto. Confuso com tantos nomes e preocupado em dar o “tiro certeiro”, telefonou para um de seus colegas “paralamentares” e obteve o número do telefone de um advogado muito famoso por conseguir a absolvição de políticos corruptos, ímprobos, envolvidos em escândalos entre outros “rollos”. Sem hesitar telefonou para o escritório do nobre causídico, mas foi informado que o seu atendimento seria para daqui a quinze dias. Nervoso, Alcapone disse a secretária: “Escute aqui, a senhora sabe com quem está falando? Sou um ’paralamentar’. Tenho urgência. O meu caso é grave...” Em tom sarcástico, respondeu a secretária: “Escute bem, meu senhor. Por aqui já passaram presidentes, deputados, senadores, governadores e prefeitos. Políticos mequetrefes como o senhor eu já perdi as contas. Por isso, contenha-se. Senão, só para 2013.” Em tom ameno, respondeu Alcapone: “Tudo bem.” Chegado o dia da tão esperada consulta Alcapone vestiu um paletó com risca de giz, calça de tergal, camisa de linho e botina carrapeta bem engraxada. Ao chegar no escritório do famoso causídico Alcapone foi informado pela secretária sobre o valor dos honorários (R$ 30.000,00). Quase teve um treco. Inconformado falou: “Isso é um roubo.” Mais uma vez, em tom sarcástico, disse a atendente: “Olha quem fala.” Sem escolha Alcapone efetuou o pagamento e logo foi atendido. Cara a cara com o causídico Alcapone lhe expôs toda a situação. O especialista consultou vários livros, códigos, internet e outros colegas, e depois de três horas disse a Alcapone: “Não se preocupe. Estou bem confiante. Com relação a autorização para a construção dos edifícios de ’quatro’ andares e da igreja ao lado do rio, o decreto tal está a seu favor. Com relação aos serviçais públicos comi$$ionados indicados pelo senhor, o artigo tal, parágrafo tal, da lei tal também lhe é favorável. Com relação ao caso do desvio de tributos, o artigo tal, parágrafo tal, inciso tal e alínea tal, da lei tal, está do seu lado. Com relação ao caso do concurso público, o artigo tal, parágrafo tal, inciso tal, alínea tal combinados com o artigo tal do tratado internacional tal, alicerça a sua absolvição. Com relação ao problema da cota gênero de sua coligação partidária, o artigo tal, parágrafo tal, inciso tal, alínea tal, doutrina x e jurisprudência y dos tribunais S, T e F, também estão em seu favor. Dificilmente você será condenado por qualquer um desses atos.” Feliz da vida, Alcapone agradeceu o brilhante advogado e partiu rumo a cidadezinha. Lá chegando comemorou com um belo discurso na tribuna da Arca. Depois da sessão patrocinou um churrasco regado a fogos de artifício, muito “mé”, moças belíssimas, pagode do bom e tudo mais que tinha direito, quando de repente o doutô Coruja o lembrou de um pequeno detalhe: “Chefinho, quase todos os seu problemas foram resolvidos, menos um...”. Paralisado, gritou Alcapone: “P... Q... P...!!!” No mesmo instante Alcapone telefonou para o especialista e lhe perguntou: “Doutor, o senhor me deu a solução de quase todos os meus ’pepinos’, faltou o da ficha limpa. Então?” O especialista lhe respondeu: “Ah, quanto a isso aí eu não sei, não. Melhor o senhor perguntar lá no posto Ipiranga.” Aviso: esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos da vida real é mera coincidência. Júlio César Leite e Prates juliopratesadv@terra.com.br [Clique aqui para acessar a listagem dos textos (já publicados) da série A ascensão e queda do Alcapone caiçara.]
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