Há anos travo uma batalha inglória contra minúsculas formiguinhas pretas que tomam de assalto a pia da cozinha, saindo de buraquinhos de azulejos, atingindo a despensa e quaisquer outros lugares onde haja a presença de alimentos. Até pimenta da "braba" elas atacam. A pia é a mais procurada. Por mais de quatro vezes perdi pratos que tomaram muito tempo e carinho e que preparei para amigos do peito. Tanto me cansei das minúsculas e fragilíssimas formiguinhas, que depois de infrutíferas tentativas através de mil receitas caseiras, resolvi procurar uma casa especializada em produtos para animais e inseticidas domésticos. Numa dessas coincidências raras, na calçada em frente à loja enfim encontrada, cruzei com um grande amigo, agrônomo experiente, ecologista lúcido e paisagista, além de escritor. Contei a ele da minha longa batalha e solicitei conselhos para inseticidas adequados. Ouvi uma relação de nomes e indicações de uso. Finalmente, ufa!, encontrei a chave! Despedi-me do amigo e do providencial encontro. Entro na loja e sua voz aflita me chama: Pedro, Pedro! Volto-me, e ele: Não faça isso. Outro discurso, agora sobre equilíbrio ecológico e a importância das formigas nesse contexto. Desarmei-me e, convidado, fomos tomar um café. Depois de uma semana acabou o efeito de suas palavras e o "tormento" se restabeleceu. Vou procurar de novo solução para o problema, não sem antes uma justificativa ecológica. As formiguinhas simpáticas e indefesas no seu habitat, e eu, no meu. Meu amigo que me desculpe, mas quero encontrá-lo só ao fim da batalha contra as formiguinhas. Nota do Editor: Pedro Paulo Teixeira Pinto é professor e ex-prefeito de Ubatuba. (Fonte: Ubatuba Víbora)
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