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Há muitos anos estamos acostumados com campanhas que estabelecem o ZERO como meta. As mais conhecidas são “Zero Defeitos”, mote associado a sistemas de qualidade total e “Zero Acidentes”, mote associado a inúmeras campanhas de redução de acidentes no trabalho. Agora, o conhecido autor do livro “Canibais com Garfo e Faca”, John Elkington, criador do conceito Triple Bottom Line, lançou um novo livro, chamado “The Zeronauts”, que expande o conceito do uso do ZERO no estabelecimento de metas que são decisivas na construção de um planeta sustentável. Os Zeronautas, segundo Elkington, são um novo tipo de inovadores determinados a adotar as seguintes novas metas: Zero Carbono, Zero Desperdício, Zero Tóxicos e Zero Pobreza. O seu livro cita uma lista desses 50 heróis contemporâneos. Na Greenbuild Conference, que aconteceu em São Francisco, nos EUA, entre os dias 13 e 16 de novembro, falou na abertura do evento o ambientalista, autor e empreendedor Paul Hawken, um dos 50 heróis citados por Elkington. Entre os livros mais importantes de Hawken estão: “Natural Capitalism” e “The Ecology of Commerce”. Na sua fala, Hawken foi duríssimo, afirmou que aqueles que duvidam do aquecimento global são contra evidências científicas irrefutáveis e que os artigos publicados que questionam essas evidências são financiados por corporações interessadas em evitar a marcha de regulações que imponham um preço nas emissões de carbono. Na sessão de encerramento do Greenbuild falou William McDonough, arquiteto, projetista e autor, inventor do conceito “cradle to cradle” (do berço ao berço). McDonough estava acompanhado dos líderes empresariais das seguintes empresas: Shaw Industries, Steelcase, Herman Miller Chemist, Dow Chemical, Basf, Jones Lang Lasalle e Delta Development. Todos deram depoimentos sobre os esforços que estão feitos na direção de reaproveitar integralmente os materiais utilizados em produtos e processos. A mensagem central está alinhada com a meta de ZERO desperdício preconizada por Elkington. Vou comentar sobre duas das sessões da conferência que achei particularmente interessantes. A primeira delas tratava do comportamento das pessoas nas suas casas (The people side of sustainability - O lado pessoas da sustentabilidade). Foi destacado o peso do comportamento das pessoas em relação ao consumo energético das residências. O consumo de duas famílias de mesmo número de pessoas e mesmo nível de renda pode variar até 300% em duas casas idênticas. Ou seja, não adianta equipar uma residência com as últimas novidades tecnológicas em termos de equipamentos economizadores e água e energia se os seus moradores não forem educados para operar a casa da forma mais adequada. Existem iniciativas, nos Estados Unidos, de promover competições entre moradores de um mesmo condomínio para ver qual é a família que utiliza a menor quantidade de água e energia na operação da sua residência. O reconhecimento vem através de descontos na conta do condomínio. Iniciativas como essa podem ter um ótimo impacto na mudança dos hábitos das pessoas. Uma das conclusões das três conferencistas é que o comportamento é mais importante do que a tecnologia. Talvez aqui esteja uma oportunidade: como educar os consumidores de imóveis? A segunda sessão tratou do tema “How to Turn Home Buyers into Green Home Buyers?” (Como transformar compradores de imóveis em compradores de imóveis verdes?). Conclui-se que os americanos se preocupam com três coisas: a segurança e a saúde da sua família; o local onde o imóvel está implantado e o dinheiro envolvido na transação, nessa ordem. Se as empresas imobiliárias foram capazes de mostrar para os seus clientes potenciais que o imóvel que está sendo comercializado foi projetado levando em conta esses fatores, provavelmente será mais fácil comercializá-los. A grande dificuldade é em relação ao dinheiro: é preciso educar o comprador para que ele faça a conta completa, não só a conta do investimento, mas também a conta do custeio: quanto vai custar a operação do imóvel nos próximos 20 anos, quanto será gasto de energia, água e manutenção em relação a outro imóvel, que não seja sustentável. Outro ponto importante está relacionado ao preço de revenda do imóvel; deixar claro que com a inevitável tendência de um aumento expressivo nas contas de água, energia e manutenção a sustentabilidade do imóvel vai impactar fortemente no preço de uma eventual revenda. Importante também destacar a participação de vários políticos no evento. Os discursos do governador da Califórnia, dos prefeitos de São Francisco e Newark e do ex-governador do Estado de Nova York foram muito marcantes. Há um forte compromisso com o enfrentamento das mudanças climáticas, não só através de legislações que procuram induzir o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono, mas também através do exemplo. Há um grande esforço em retrofitar os edifícios públicos, tornando-os ecoeficientes. Concluindo: o setor deverá enfrentar desafios crescentes, associados com os vetores, mudanças climáticas, escassez de recursos naturais e redução da pobreza. Esses desafios se expressarão de duas formas principais: legislações mais restritivas e consumidores mais exigentes - as empresas que conseguirem enxergar os impactos dessas mudanças nos seus negócios mudarão as suas estratégias empresariais e continuarão operando lucrativamente rumo ao século XXI; aquelas empresas que não se adaptarem a esses novos e difíceis tempos não operarão por muito tempo. Quem viver verá. Nota do Editor: Aron Zylberman é diretor executivo do Instituto Cyrela e membro da vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP.
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