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Somos a sexta economia do mundo. Mais ricos que a Inglaterra, a Itália, a Rússia e outros importantes países. Mas vivemos o risco permanente de ser assaltados, executados, vítimas de golpes que vão desde o antiquíssimo “conto do bilhete premiado” até às simulações de seqüestro de familiares vindas através de telefonemas normalmente oriundos do interior de penitenciárias. Apesar do país rico, nossos cidadãos morrem sem atendimento nas porta de hospitais sucateados e as crianças freqüentam a escola, dela saindo sem ter sido alfabetizadas. Que pais é esse? - já perguntava, anos atrás, o músico indignado. É o país que teve acesso à tecnologia e até aos mercados mas não fez a lição de casa com que tornar-se-ia habitável e seguro aos seus próprios cidadãos. Historicamente, vivemos a guerra de classes não declarada. Apesar de todos se dizerem solidários, sem preconceitos e sustentáveis, cada segmento e até pessoas individualmente, só procuraram o próprio interesse, a qualquer custo, sem a preocupação do quanto ao próprio benefício poderia trazer de dissabor e sacrifício ao conjunto da sociedade. Os solavancos políticos vividos ao longo do último século nos transformaram num país inacabado. Toda vez que mudou a ordem política, optou-se por liquidar com tudo o que já havia (para eliminar a imagem do adversário derrotado) sem analisar mais detidamente o que poderia ser útil e o que efetivamente teria de ser mudado. Todas as mudanças havidas ocorreram dentro do viés da desconstrução do antecessor. Os novos detentores do poder, explícita ou implicitamente, sempre escolheram construir a base de seu trabalho sobre a crítica e a desqualificação do que passou. Isso não ocorreu somente por ocasião das mudanças institucionais. Até quando um governante consegue eleger seu sucessor, ninguém garante que o eleito continuará a sua obra ou pelo menos que não a criticará. Se o eleito não faz pessoalmente, sua equipe se encarrega de fazê-lo com seu beneplácito. Mas o faz apenas com o objetivo político-politiqueiro de evitar que o líder saído possa um dia voltar. Chegam a acusá-lo de coisas torpes, mas tudo não passa da acusação que, via de regra, termina num acordo político, onde os contendores fumam o cachimbo da paz e o povo fica com cara de besta. Esse comportamento pouco airoso e irresponsável da corte política, somado aos desmandos e à impunidade reservada aos donos de colarinho branco, leva o povo a duvidar de tudo e a sentir-se órfão. Os governos omissos, que não cuidam de suas obrigações, ensejaram o surgimento do crime organizado que hoje confronta a autoridade constituída e atemoriza a população. Chegamos ao fundo do poço. A guerra urbana está deflagrada, policial mata policial, agentes da lei se corrompem e o governo age com a costumeira lentidão. A imprensa investigativa que divulga as mazelas é a grande e democrática trincheira que ainda nos resta para protestar. O Brasil não merece tanta inércia e falta de comprometimento. Precisamos de uma grande força-tarefa com o empenho de todos os níveis governamentais para a retomada da ordem e a garantia do desenvolvimento. No atual estado de coisas, não iremos a lugar nenhum e o povo - com toda razão - continuará duvidando até da própria sombra... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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