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O operador do mensalão, Marcos Valério, disse em depoimento à Procuradoria Geral da República, agora revelado pela imprensa, que em 2003 depositou R$ 98 mil na conta do assessor particular do então presidente Lula, para pagamento de contas particulares do governante. Também falou que, numa reunião ocorrida no Palácio do Planalto, onde também participaram José Dirceu e Delúbio Soares, o presidente teria dado o seu “ok” para a contração dos empréstimos bancários do mensalão, com os quais o PT pagaria os deputados da base aliada do governo. Falou ainda do “pedágio” que diretores do Banco do Brasil teriam recolhido em favor do PT e de outros negócios irregulares. Em Paris, Lula disse: “é mentira!”. No Brasil, seus aliados agem para desclassificar o denunciante e garantem ser desnecessária a apuração. Na mesma linha, José Sarney exagera nas cores ao promover Lula à condição de “patrimônio da história deste país”. O PT, em nota, classifica a denúncia como “sucessão de mentiras envelhecidas” e não perde a oportunidade de dizer que Valério estaria a serviço de “setores da mídia e do Ministério Público contra o PT e seus dirigentes”. Sem dúvida, a denúncia de Valério tem a aparência de abraço de afogado. Condenado a mais de 40 anos de prisão e a pagar multa milionária, tenta ele diminuir sua pena falando coisas que não disse antes, quando teve a oportunidade de fazê-lo, no decorrer do seu processo. Essa condição, no entanto, não é motivo para a dispensa de apuração do ocorrido, por mais categorizado e detentor de qualidades que seja o denunciado. Independente das razões do delator, a sociedade exige a mais completa e rigorosa investigação sobre todo o dito. Há que se exigir documentos, controle de acesso das pessoas aos locais públicos (especialmente o Palácio do Planalto) onde o empresário disse ter se reunido com o ministro, o tesoureiro do PT e o presidente e, principalmente, as provas quanto aos depósitos supostamente feitos na conta do assessor particular do presidente e de outros possíveis beneficiários as operações irregulares. Não se deve desprezar nada do que o empresário hoje réu condenado afirmou no dia 24 de setembro às procuradoras da república. Em vez de tentar varrer as denúncias para baixo do tapete, os petistas e lulistas, se é que têm a certeza de se tratarem de mentiras, deveriam exigir a mais completa investigação para, ao final, não se confirmando os fatos relatados, poderem chamar o denunciante às barras dos tribunais por mais esse crime e, com isso, desagravar o ofendido. A impunidade, o corporativismo e o compadrio têm sido os grandes males desse país e responsáveis pela má imagem que a população cultiva em relação à classe dos políticos. Se as denúncias de Valério não receberem a mais séria e independente verificação através dos órgãos competentes, Lula e seus seguidores correm o risco de passar para a história como mais um grupo de corruptos inescrupuloso entre os outros que já habitaram as diferentes esferas do poder neste país. Isso sem falar na possibilidade de outros condenados também decidirem “falar o que sabem”, conforme já anunciou Carlinhos Cachoeira, implicado em outros malcheirosos negócios que envolvem o governo... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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