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Faz muito tempo que a Argentina vem se esquivando dos credores e deixando de pagar sua dívida soberana. O mercado global já precarizado pelas dívidas em especial da zona do Euro, vem sendo prejudicado pela Argentina, que aplica o calote sem qualquer constrangimento. Foi-se o tempo em que a falta de pagamento dos débitos implicava em movimentos bélicos e guerra fria por parte dos credores contra os devedores. Nos idos de 1899 chegou a acontecer com a então devedora Venezuela. Entretanto, nesta quadra da realidade econômica, assolada por freqüentes crises, o calote e a impunidade campeiam. No caso do país “hermano” é esperada a declaração de “quebra”, que mesmo sendo um ato formal, pode prejudicar todas as relações comerciais e políticas argentinas. É certo que as atuais dificuldades daquele país tem forte conotação com a realidade econômica e social que coloca a presidente Cristina Kirchner num embate diário interna e externamente. Com efeito, vários segmentos da atividade produtiva são hostis ao governo, especialmente o agronegócio, que vem sofrendo aumento de impostos e limitações nas suas exportações. Também os trabalhadores e sindicatos passam por desconfortos nas negociações por melhores salários. Tudo sob a pressão do crescimento galopante da taxa de desemprego. Agora o governo se expõe no maior de todos os embates com a nova regulamentação para a mídia, alcançando a liberdade de expressão e a propriedade dos veículos de comunicação social. É, portanto interna e externamente que acontece a efetividade do espírito de “pelea” que marca os procedimentos argentinos. É um modo de ser que até aqui tem garantido a sobrevivência. Mas é pouco crível que assegure a prosperidade e desenvolvimento daquele país que já teve uma trajetória de liderança na América Latina. Neste contexto, é mais uma razão para a afirmação do protagonismo brasileiro no território. O fortalecimento das nossas relações externas com uma conduta adequada no comércio e nas finanças, corroborada pelo novo patamar da nossa dívida soberana, nos credencia como país emergente e líder latino. Enquanto a Argentina está na retaguarda, se defendendo em tribunais para evitar declarações de quebra e tumulto nas relações internas e externas, passamos por um ambiente de serenidade. É evidente que lá também tem o constante debate sobre a corrupção e o aproveitamento das vantagens pelos familiares dos altos governantes. Acontece que aqui a dimensão já está em outro patamar, a Polícia Federal e o Poder Judiciário agem com independência. Enfim sempre é bom espichar o “olho” para observar e refletir sobre o que está acontecendo ao nosso lado. Temos limitações de fronteira, diferenças culturais, questões de soberania, mas somos todos latinos, inseridos em um mundo global e disputando uma política internacional que possibilite oportunidades iguais no comércio e nas relações entre os povos. Nota do Editor: Afonso Motta é advogado, produtor rural e secretário de Estado.
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