"É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar - bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola..." - (Roberto Campos) Esse negócio de ser socialista costuma render bons frutos materiais. Observo estupefato a quantidade de sujeitos que pregam o altruísmo com o dinheiro alheio enquanto preservam com muito cuidado seus ganhos para si. Eles defendem a "igualdade", mas sempre se consideram mais iguais que os outros. Condenam o consumismo, mas dele dependem para sobreviver. Criticam o capitalismo, mas usufruem com vontade de todos os produtos que somente este modelo é capaz de criar. São socialistas no discurso, capitalistas no bolso.
O Fórum Social Mundial, recentemente realizado em Porto Alegre, é um excelente exemplo de concentração de tais hipócritas. O evento, cujo custo passou de R$ 18 milhões, está repleto de "capitalistas selvagens" tentando vender qualquer porcaria para os consumistas românticos. Camisas com a foto do guerrilheiro Che Guevara fazem um incrível sucesso, mas Coca-Cola está vetado. Dizem que vem do "império" americano. Curioso é que os viajantes vieram em Boeings, usam a Internet, telefone, microondas e diversas outras invenções dos "malditos" capitalistas. Mas o refrigerante tem que ser guaraná. Um mundo novo é possível. Partindo para alguns casos particulares de ricos socialistas, temos logo de cara o renomado Chico Buarque de Holanda. Defensor incondicional do regime genocida, admira até mesmo o carniceiro Fidel Castro, cujo paredon já ceifou a vida de milhares de intelectuais cubanos, que não podiam exercer a liberdade de expressão que Chico pode. A venda de inúmeros discos e livros permite uma vida bastante confortável para o autor, bem diferente do estilo de vida que os miseráveis cubanos levam, sob o regime por ele defendido. Se ele dependesse do consumo desses coitados, aliás, nunca teria o patrimônio que tem. Se o mundo fosse socialista, Chico Buarque seria de fato mais igual a um miserável cubano. Na mesma linha temos Veríssimo, o simpático cronista que adora esculhambar os Estados Unidos e o capitalismo, pregando sempre a utopia assassina do socialismo. Só de contrato de venda de livros para o governo ele já embolsou milhões. Veríssimo está rico, faz parte de uma minúscula parcela da sociedade. Mas mantém sua "nobre" defesa do altruísmo material, com o dinheiro dos outros. O dele fica bem guardado nos bancos que os socialistas tanto criticam. O arquiteto Oscar Niemeyer representa um caso parecido, tendo ganho rios de dinheiro em contratos com o governo. Não soube desse dinheiro ter sido doado para a "justiça social". Já Bill Gates, o capitalista ganancioso americano, acaba de distribuir US$ 3 bilhões em filantropia. Mas essa característica de falar uma coisa e fazer outra não é monopólio dos nossos socialistas, nem algo novo. Jean-Paul Sartre, por exemplo, vivia no conforto da França enquanto defendia a máquina assassina do Estado soviético, assim como admirava Mao Tse Tung, um dos maiores genocidas da História. O "grande salto" que o comunista lançou a China foi na verdade o salto do precipício, matando milhões de fome, enquanto Sartre elucubrava sobre as maravilhas de tal regime durante suas fartas refeições. Mais recentemente, o escritor Saramago apoiou durante anos o socialismo cubano, que escravizou a população da ilha e trouxe miséria generalizada, com a exceção apenas dos amigos de Fidel. Saramago ganhou o prêmio Nobel de literatura, e juntou uma boa fortuna com a venda de seus livros também. Não tive notícias de sua contribuição para a maior "igualdade social". Enfim, a hipocrisia parece ser premiada no mundo. A retórica socialista, repleta de romantismo utópico e contradições lógicas, garante a imagem de nobre homem preocupado com o "social" e com as desigualdades materiais, embora o socialismo não seja visto como materialista. De quebra, a defesa do socialismo ainda pode ser um ótimo negócio para quem não liga para aspectos éticos. A pregação ideológica do socialismo acaba ajudando bastante nas vendas de livros, músicas e filmes, deixando os artistas socialistas bastante ricos. Claro, os ricos socialistas nunca teriam tal riqueza se dependessem das nações socialistas. Pobres socialistas, que acreditam nesses ricos "socialistas". Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor do livro "Prisioneiros da Liberdade", da editora Soler.
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