Por dez anos, minha gata tem reinado como a rainha absoluta desta casa e nós temos nos acostumado a sua aristocracia, exigências e peculiaridades. E eu penso mais em suas idiossincrasias desde que meu irmão adquiriu um novo animalzinho: um coelho branco com algumas manchinhas cinzentas. Quando ele o trouxe dentro de uma caixa de sapatos, eu não quis acreditar.

Fiquei surpresa ao ver uma bolinha peluda, orelhuda e de olhos assustados, que peguei no colo. Ele não parava de mexer o focinho e ficava quietinho, sem emitir nenhum som, observando tudo a seu redor. Ficamos com medo de nossa gata tentar matá-lo, mas ela não lhe deu a menor atenção. Com o passar dos dias, fui percebendo a diferença entre minha bela gata negra e o coelho branco. Ele não emite nenhum som, enquanto ela tem um miado estridente; o coelho não é exigente, ao passo que a gata chega a ser insuportavelmente exigente.

Logo, fomos vendo mais diferenças entre a gata e nosso novo animalzinho. Ela é higiênica, mas ele faz sujeira por toda a casa, tendo nos obrigado a limpar a casa quase diariamente.

O coelhinho é adorável, acostumou-se a nossos carinhos. Quando nos aproximamos da gaiola, ele abaixa a cabeça para que a acariciemos. Também fica excitado quando o soltamos para passear e adora pular atrás de nós e sempre vem até nós, posicionando-se para que alisemos suas orelhas. Mãe diz que ele já ficou sem-vergonha.

Uma coisa que eu ignorava sobre coelhos: eles comem sem parar. Ele come a ração, folhas de repolho, alface, couve (literalmente, ele se atira aos talos que eu dou), as plantas do jardim e mesmo a ração da gata ou os restos de pão, xerém e arroz que atiramos para os passarinhos. Mesmo meu pai, que não presta muita atenção a animais, já falou: "Mas ele come, meu Deus! É sem parar!"

Em pouco tempo, ele dobrou de tamanho e eu lamento um pouco, porque eu adoraria que ele ficasse sempre pequenininho. Talvez queiramos que todos os nossos animais fiquem sempre pequenininhos, mas todas as criaturas têm que crescer e se desenvolver.

Não nego que ele dá trabalho, mas a alegria compensa. É ótimo ter a companhia de um animal que nos demonstra ter tanta alegria com nossa presença. Mas há uma coisa que me entristece um pouco: mesmo que ainda estejamos dando à nossa gata todo o carinho que sempre demos, ela está ciumenta e se isolando. Eu adoraria que ela entendesse que continuamos a gostar dela como sempre gostamos. Espero que ela não demore a se acostumar a ele.