A nova expectativa nacional gira em torno do já velho mensalão. Aguarda-se que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao retornar de férias, nos próximos dias, despache sobre o depoimento que Marcos Valério, o operador do mensalão, - condenado a mais de 40 anos de prisão pelo STF - prestou em setembro último, dizendo ter pago despesas do ex-presidente Lula e que o governante deu seu aval para a realização dos empréstimos e operações fraudulentas. Adiantada pela grande imprensa, a notícia do envio do caso ao MPF do Distrito Federal, Minas ou São Paulo, para apuração em primeira instância, provoca a reação do PT, que considera “absurdo” o propósito de investigar Lula e promete mobilização para blindá-lo. Deveriam os líderes petistas guardar seus argumentos para deles fazer uso em melhor oportunidade, quando o ex-presidente realmente estiver necessitando de defesa. Por ora, se é que têm tanta certeza de não haver irregularidade, - a exemplo do que tem feito Dilma Rousseff, que afasta os denunciados e manda apurar os malfeitos - o próprio Lula e seu partido deveriam ser os maiores interessados em obter a mais completa e independente apuração. Se não tiverem telhado de vidro, o simples relatório do MPF ou de qualquer outra instância competente e tecnicamente capaz, será o seu atestado de honorabilidade e dará os instrumentos necessários tanto para o desagravo público quanto para as providências jurídicas contra o autor das denúncias então reconhecidas oficialmente como improcedentes. Apesar de seu reconhecido carisma, Lula tem perdido muito do brilho de sua imagem desde que adotou a esquiva como instrumento de defesa quanto ao mensalão e outras possíveis irregularidades denunciadas no bojo de seu governo. Mesmo ficando comprovado que realmente não sabia das coisas, não conseguirá livrar-se da imagem de líder relapso, que não tinha conhecimento daquilo que seus auxiliares faziam debaixo de suas barbas. Queiram ou não os petistas, o nome do ex-presidente já está lançado à tempestade do mensalão, mesmo que tardiamente e por um condenado. Criar embaraços às devidas apurações, comuns a qualquer cidadão sobre quem sejam lançadas dúvidas, soa para o povo como uma confissão do delito. O melhor que Lula e o PT têm a fazer é trabalhar pelo deslinde de todo o caso e colaborar com as autoridades. Do contrário, além de perder o seu garoto-propaganda, o partido, mesmo estando no poder, seguirá acossado pela maliciosa dúvida de que, para se manter, é capaz de usar até dos mais baixos expedientes, como a criminosa compra de apoio parlamentar custeada com dinheiro desviado do cofre público. Quem te viu, quem te vê... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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