Desde 2008, quando a crise se instalou e assombrou os principais mercados internacionais, o Brasil vem combatendo-a através do incremento ao mercado interno. Não corrige o preço da gasolina, concede isenção de IPI para automóveis, eletrodomésticos, móveis e materiais de construção. Mesmo assim, fechou 2012 com fraco desempenho na economia e terá de lutar muito para aquecer a produção e o mercado em 2013. E precisa fazer isso sem abrir brechas para a volta da inflação, medianamente contida desde o Plano Real, editado em 1994. O governante que permitir a volta da espiral altista pagará muito caro por isso e ficará vulnerável aos antecessores que, bem ou mal, mantiveram a estabilidade. O começo do ano é a época em que ocorrem os reajustes, principalmente nos anos como esse, em que começam os mandatos municipais. Os prefeitos concedem reajustes nas tarifas de ônibus (contidas no período anterior por causa das eleições) e faz uma série de ajustes. Mas agora vêm recebendo pedidos da área econômica para manter a estabilidade ainda que por um ou dois meses, evitando a realimentação inflacionária. Anteontem (17), mesmo, pediu a São Paulo que retarde o aumento da passagem do metrô. O próprio governo coloca em prática a desoneração da eletricidade - que a partir do próximo mês diminuirá 16% para uso doméstico e até 28% para o industrial - mas não consegue fazer o mesmo com a gasolina, pois a Petrobras alega altos prejuízos ao ter de importar o combustível a preços mais elevados que os vigentes nas bombas de abastecimento. Para atenuar a alta, calculada em 7%, elevará a adição de álcool de 20 para 25%. Mas isso está provocando a inquietação dos usineiros, que não contavam com a medida, e poderá influir no preço do etanol, que oscila conforme a oferta e procura. Desde 2008, quando o presidente Lula afirmou que o “tsunami” dos grandes mercados aqui chegaria apenas como uma “marolinha”, vivemos apreensivos com a possibilidade da vinda da onda maior. A grande pergunta é até quando o Tesouro, com os monumentais compromissos na manutenção do governo caro e perdulário como o brasileiro, terá condições de agüentar as desonerações concedidas. Essa situação não poderá perdurar por muito tempo, pois esvaziará os cofres, obrigando o governo a emitir moeda e, com isso, readmitir a inflação. Com suas ações pontuais, a área econômica tem conseguido manter baixa a inflação. Mas é importante lembrar que com as protelações de reajustes (gasolina, ônibus, metrô e outros) não se resolve o problema, pois quando o consumidor ou o usuário do produto ou serviço não paga o preço certo, quem paga a conta é a sociedade, através dos impostos. Hoje ainda não somos capazes de prever qual será o custo dessa para o lastro nacional. Melhor seria que, em vez de medidas de impacto e populistas, tivéssemos uma reforma tributária ampla, desmontando cartórios encravados na estrutura governamental e devolvendo aos estados e municípios o poder de arrecadar deles retirado nos governos autoritários. Abrir mão da receita centralizada na União também é uma forma de democracia e esta, por todo o que temos, o Brasil ainda não conhece... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|