No início de julho, ao sol que, naquela manhã nascia, virei as costas! Cortando cidade, que dormia ainda, finalmente, ganhava a estrada, rumo ao oeste, pelas mãos dos meus sonhos levada, em busca de uma Cidade Encantada. E, os meus sonhos, por tanto e tanto tempo adiados, no velocímetro do carro, iam contado as horas para torná-los realidade, depois de anos de dolorosa espera.

Pela longa estrada de asfalto e céu azul, na solidão do meu carro, descendo os vidros, deixei o vento entrar e, assim convidado, com os meus cabelos brincava. Aqui e acolá a monotonia da viagem era quebrada por um povoado, uma pequena cidade, e uma parada para o café da manhã, em Soledade. Segui viagem, quase atropelando a distância que me separava daqueles belos olhos castanhos brilhantes que enfeitiçaram minha vida, coração e alma.

O pensamento viaja... 300 km por hora e, no jogo de xadrez das nossas vidas, o tabuleiro em preto e branco marcava, raros os instantes de boas recordações, belas lembranças, muitas esperas e tormentosos lances de saudade. Agora, todo padecer, valia apena. Com um sorriso leve se desenhando em meus lábios, de repente me vi na Praça do Meio do Mundo e, literalmente, estava eu no meio da minha vida a caminho do meu conta de fadas. Em pleno "pingo" do meio-dia, estava eu, na Cidade Encantada.

Deserta, aquela hora quase deserta, a cidade estava. O rádio do carro, tocava uma música de Roberto Carlos, homenageando o encontro entre o Rei e a Princesa naquela Cidade Encantada. Contornando a praça que, parecia ser a principal, parei e, perguntei ao primeiro e solitário passante, onde ficava a Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho. Dobro a esquerda, de logo dei de cara com um "Coreto" e lá, estava a Igreja, a esquina e a casa imponente, em seu estilo antigo: uma mureta, portão alto, em ferro talhado, parecia, uma obra de arte. Sem cigarra, bati palmas: coração aos pulos, quase me sufoca a voz... mas, finalmente ali estava, festejada, abraçada, acarinhada, adentrando, ao céu, do meu sonho de amor há tanto, tanto esperado.

O restante daquele inesquecível dia, foi tomado por quadros e retratos dispostos nas fortes e sólidas paredes da sala, que me davam as boas vindas, entre delicados cristais, carinhosamente acomodados na bela antiga "cristaleira". Na extensa sala de visitas, um piano alemão, saudava os visitantes e confortáveis poltronas nos convidam a sentar. Em um requinte discreto e, em tudo, havia, um toque de fidalguia.

Ao cair da tarde, os repiques do sino da Matriz da Senhora do Bom Conselho, se faz ouvir por toda cidade. O sol que reinou soberano o dia inteiro, aos poucos se esgueirando ía pelas encostas das belas serras que, contornam a bela "Princesa do Agreste".

Quando a noite se faz chegada, um varrido de nuvens e um céu de inconfundível azul rebordado de estrelas brilhantes e luzentes, nos encontra de mãos dadas, no banco da praça, ao sabor dos nossos sonhos de amor, guardados, adiados e sempre sempre esperados. E, no milagre da ternura das mãos dadas, no encanto da emoção do encontro de amor tão adiado, tínhamos, naquela noite de manso amor, por testemunha, apenas na noite e início do mês de julho, o lindo "céu estrelado" desta Cidade Encantada.