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Opinião
05/02/2013 - 11h02
Negação, mecanismo de defesa do ego
Montserrat Martins
 

Negação é um dos mecanismos inconscientes descritos por Freud como um modo de defesa do ego. Recurso da natureza humana contra sofrimentos insuportáveis, está presente na primeira fase do luto, em que negamos a morte da pessoa amada, como se ela fosse voltar para casa, como se a qualquer momento ela pudesse entrar pela porta, como se a notícia de sua morte fosse apenas um pesadelo do qual pudéssemos acordar a qualquer momento e ver que ela ainda está viva.

Precisamos da negação para nossa sobrevivência emocional em situações trágicas, sem ela quem perde o ente amado só pensa em morrer junto, de saudades, se sente sem forças para continuar vivendo. Na hora da dor maior, que não cabe dentro do peito, apoios podem não ser suficientes, racionalizações não tem guarida, tentativas de consolo são inúteis e podem até magoar mais. A sensação de irrealidade, de que a perda não aconteceu, pode ser o único alívio para quem sobrevive, na pior hora, quando a realidade é esmagadora demais.

Se ela servisse apenas para aplacar a dor insuportável, bendita negação. Existem outras formas de negação, no entanto, que são preocupantes. Somos movidos pelo “princípio do prazer” e este também mobiliza, para a realização de desejos, doses variáveis de negação dos possíveis riscos. Correr demais de carro por pressa ou diversão, beber antes de dirigir porque não haverá barreira na estrada, fazer sexo casual e sem camisinha, expor a si ou a outrem a riscos para ganhar dinheiro, são exemplos praticados por muitos, diariamente.

Além destas condutas temerárias individuais, também há as coletivas. Sociedades inteiras negam a violência implícita na desigualdade social, como se fosse possível haver paz na negligência; países negam os riscos da mudança climática que já está em curso, como se pudéssemos deixar para enfrentar o problema depois.

Não é preciso ser um discípulo freudiano (que não sou) para reconhecer que um mecanismo de defesa inconsciente, natural e necessário para sobrevivermos à dor que dilacera a alma, é ao mesmo tempo um dos fatores envolvidos na gênese de tragédias, quando associado ao princípio do prazer. Para nos divertirmos desprezamos os riscos, nossos ou de outrem.

A tragédia nos recoloca na realidade que tentávamos evitar, negando que ela pudesse acontecer. Usamos a razão, agora, para identificar culpados, para precisar quem e porque não cumpriu suas obrigações. Não é difícil apontar culpados e responsabilizá-los, fazer cumprir a lei, quando há indignação e revolta. Nessas horas nos lembramos que as leis são para serem cumpridas e os que não as respeitaram, nesse caso, servem de exemplo disso. Há muito a fazer, ainda, para aprimorar leis e fiscalizações de modo a que os jovens tenham direito a se divertir sem tantos riscos.

Mais difícil é assumirmos que todos somos responsáveis, por nossa negligência coletiva e já enraizada na nossa cultura, envolvidos que estamos na grande negação coletiva dos riscos em tantos lugares, de tantas formas, a que expomos a nós e aos outros diariamente. Tão cruel quanto a dor por cada vida perdida nessa tragédia, será a dor por cada vida que será perdida em acidentes de trânsito, entre outros, que continuam se sucedendo.


Nota do Editor: Montserrat Martins, colunista do Portal EcoDebate, é psiquiatra. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

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