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Crônicas
10/02/2013 - 10h01
Tempo de orgia
José Ronaldo dos Santos
 

Quando criança, graças à moral dos pregadores que passavam pelo espaço caiçara, o carnaval era diversão para ser evitada, “tempo de orgia”.

A nossa vizinha, a dona Aparecida, uma evangélica recém-convertida, piorava ainda mais as coisas. Nomeava de “Cocheira” o local, o clube do Anchieta Futebol Clube, no Perequê-mirim, onde uns tocadores locais arrebentavam os instrumentos nas marchinhas de outros tempos. Era um termo depreciativo, onde frequentavam “as vacas, essas mulheres que não têm vergonha na cara”. Mesmo assim nós não perdíamos os matinés, se enrolando em serpentinas e confetes. A mamãe ia, discretamente, olhar a nossa diversão. Afinal, não queria se indispor com a vizinha.

Os mascarados eram atração especial nos dias de carnaval. Tratava-se de adolescentes e jovens do bairro que saíam em grupos com varas, dispostos a correrem atrás das demais crianças e descerem a guasca, provocando choro. A gente provocava muito eles, principalmente quando eram reconhecidos e todos passavam a gritar seus nomes. Depois de darem um show, se retiravam para algum lugar no mato onde se desvestiam e davam um jeito de não deixar pistas.

Era tempo de carnaval, da festa da carne. Depois, ao chegar a quarta-feira de Cinzas, as testas ficavam marcadas e... era tempo de penitência aos católicos!

Com o passar dos tempos, das leituras e reflexões, foi aparecendo a verdade: a festa da carne, dos prazeres, era muito mais antiga que eu imaginava. Vinha dos pagãos, dos discriminados pelo cristianismo. Desde os primórdios os homens sentem que precisam se divertir e extravasar seus sentimentos contidos pelas tarefas de rotina. Assim garantiram um ritual que cresceu e teve de ser considerado até pelo pessoal do calendário cristão.

Ambos, o Carnaval (tempo de diversão e de prazer), uma paixão de muitos milênios, e, o Natal (dia do nascimento do sol), foram incorporados ao calendário oficial, gregoriano. Só tomando essas medidas, era possível converter os povos pagãos, devassos, adoradores de outras divindades da Antiga Europa. A ideologia nova, imposta pelo imperador romano, conseguiu trabalhar as mentes, redirecionar toda paixão popular para um calendário litúrgico que deveria ser seguido à risca.

Hoje, as linhas religiosas fundamentalistas ainda continuam ativas. Coitada da finada dona Aparecida que nem queria olhar para o outro lado da rua, onde ficava a “Cocheira”, um ponto de união da praia do Perequê-mirim! Agora, se não estou enganado, por falta de lugares assim, a juventude crescida na hipocrisia fundamentalista, está desorientada e preferindo se drogar. Que pena!

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