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Opinião
11/02/2013 - 12h11
Santa Maria: Quanto vale uma vida na noite?
Jeferson D´Addario
 

Infelizmente, tragédias como esta em Santa Maria (RS) nos faz refletir sobre a falta de segurança na maioria dos locais que recebem grande quantidade de clientes/público no Brasil.

Em meu trabalho é comum realizarmos inspeções físicas e de segurança em vários tipos de edificações, e tomar como base as leis e regulamentações vigentes como as NR 10, 23, 35, entre outras. Muitas regulamentações regionais e até federais existem, porém não são seguidas adequadamente em casas noturnas, restaurantes, e muito menos em locais onde ocorrem shows. Erros e muita falta de capacitação adequada são vistos recorrentemente em todas as grandes cidades do Brasil.

Pela manhã, acompanhei os jornalistas de algumas emissoras, indignados. Como um deles, que questionou: "Há brigada de incêndio nestes locais?", e "Há detectores de incêndio?".

Vou tomar a liberdade de responder: Não! A Brigada de Incêndio é obrigatória em determinadas configurações prediais e do volume de pessoas que frequentam o local. Existe um cálculo, de acordo com a população fixa e a flutuante, ou seja, quem frequenta o local todos os dias e aquelas pessoas que visitam (em média) o local. Esta regulamentação é antiga em São Paulo, por exemplo, e deve ser respeitada, pois caso isto não ocorra há punição de interdição feita pelo corpo de bombeiros. Todo mundo segue? Claro que não!

Existem edificações no Rio de Janeiro, em São Paulo e outras capitais, principalmente comerciais, que não deveriam ter autorização sequer para estarem habitadas. Extintores vencidos! Isso não acontece. E o pior, poucas pessoas e funcionários dos locais sabem utilizá-los adequadamente. Seguranças e funcionários de casas de shows não estão preparados para situações de emergência, sequer para utilizar e orientar um grande volume de pessoas em casos de emergências.

Hoje, existem tecnologias disponíveis (e não caras) para prevenção, detecção e resposta a incêndios em vários tipos de locais e edificações. Mas, infelizmente, muitos empresários, gerentes de infraestrutura, chefes de segurança e diretores de locais, sejam para shows ou para outro uso comercial, ignoram as leis e tentam ao máximo reduzir custos nas instalações, criando uma verdadeira bomba relógio.

É comum identificarmos rotas de fuga obstruídas sem intenção (por falta de conhecimento e capacitação) ou com intenção (na tentativa de evitar algum tipo de abandono fraudulento), como no caso da Boate Kiss, em Santa Maria. Considero este o pior caso de despreparo e falta de capacidade gerencial da administração, segurança e toda a fiscalização, pois obstruir ou afunilar rotas de fuga para evitar uma tentativa de não pagamento ou fraude é merecedor de um homicídio doloso. É responsabilidade do dono do local pensar na incapacidade de visitantes de reagir em situações de crise ou desastre. Todos devem ser responsabilizados, inclusive os órgãos de fiscalização.

Os menos culpados são os integrantes da banda, formada por artistas, que inocentemente ou por falta de competências específicas, não analisaram os riscos que os efeitos especiais poderiam causar neste local. Cabe o conselho para outras bandas que gostam disso: sempre tenham opções para locais abertos e fechados, e consultem ou contratem especialistas em segurança para auxiliá-los no projeto e planejamento de um show com muita antecedência. Busquem a planta do local e planejem o show.

Segundo Alexandre Garcia, uma única lei seria necessária: "Cumprir as leis vigentes". Concordo plenamente. O Brasil é o país do jeitinho e dá "bola" para liberar obras e locais que recebem público.

Cadê os detectores de fumaça e os sprinklers para a casa Kiss em Santa Maria? Cadê os detectores e sprinklers em universidades e prédios comerciais em São Paulo? Ou em casas noturnas? Ops, é muito caro para quem investe em uma casa noturna que fatura muito dinheiro toda noite.

Sprinklers, para quem não sabe, são aqueles "chuveirinhos" instalados no teto de locais e acoplados a um sistema de resposta a incêndio. Geralmente, eles possuem um recipiente com mercúrio e quando a temperatura aumenta eles disparam água no local. Existem vários tipos de sistemas de respostas a incêndios e este é antigo e básico para um local como a boate Kiss, ou qualquer local de show fechado no Brasil.

Dicas

1. Sempre ao visitar um local procure conhecer as rotas de fuga e saídas de emergência. Peça para ir ao banheiro, por exemplo, e procure a sinalização. Se não encontrar, questione alguém do local.

2. Todo evento, como este em Santa Maria, deve em sua abertura orientar, antes de começar o show, sobre as saídas de emergência e como proceder em caso de ocorrência. É como em um avião antes de decolar.

3. Sinalização de emergência e equipamentos de proteção como extintores nunca são demais. Deixe-os visíveis. Por exemplo: se um extintor estiver fixado em uma coluna, devem ter a sinalização por todos os lados.

4. Nunca obstrua rotas de fuga com mesas, cadeiras e entulhos, principalmente em escadas.

5. Em caso de incêndio, procure abaixar-se e sair calmamente do local. A fumaça tende a subir.

6. Compre pisos, revestimentos e forros para o teto não inflamáveis, para locais comerciais. É mais caro, porém é mais barato que a culpa!

7. Conheça os extintores e tenha-os sempre em dia (dentro do vencimento) em locais comerciais, e não obstrua as mangueiras.

8. Em casa é uma boa dica ter um extintor e saber usar. Prédios residenciais me assustam, e a legislação é muito fraca nesse tipo de edificação, e é claro que a maioria dos moradores sequer participa dos cursos de combate a incêndios anuais e outros treinamentos, sempre realizados durante semana onde as pessoas não estão em suas casas.

9. Escolas precisam ter treinamentos e exercícios de evacuação em caso de emergência como lei e efetuá-los semestralmente. Bem como alarmes, detectores e equipamentos de resposta a emergências. Sejam públicas ou privadas.

10. Menos impostos é mais segurança! Fica o conselho ao Governo. Remediar é mais caro!


Nota do Editor: Jeferson D’Addario é sócio fundador da DARYUS Consultoria, consultor sênior há mais de 15 anos em TI, Gestão de Riscos e Continuidade de Negócios. Certificado pelo DRII - Disaster Recovery Institute International - USA, BCI - Business Continuity Institute - UK, CRISC - Certified Risk Professional pela ISACA - USA. Formação em Economia e TI, é criador, coordenador e professor da primeira Pós-graduação em GTSI - Gestão de Segurança da Informação, usando a norma ISO 27001 no Brasil. Ganhador do prêmio SECMASTER 2006, concedido pela ISSA, possui mais de 36 projetos de Continuidade de Negócios e Gestão de Riscos para empresas líderes nacionais e multinacionais de vários segmentos. Foi o responsável em trazer e conduzir os cursos do DRII no Brasil desde 2005. É palestrante e colaborador de institutos e universidades para difusão e ensino do tema.

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