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Opinião
24/02/2005 - 10h01
Em busca de um Futuro
L C S Penna
 

Apogeu

No final do século passado, que marcou, também, o final do Império, o crescimento de São Paulo agigantou-se. O Norte do Estado, com o Vale do Paraíba, tornou-se verdadeira potência econômica. E o Sul de Minas, região vizinha, acompanhou esse surto de progresso.

Ubatuba tornou-se o porto exportador por excelência dessa rica região econômica, onde imperava o café. Como porto de grande movimento, era o ponto final, litorâneo, da chamada rota do café, vinda do Sul de Minas e do Vale do Paraíba. Por aí, nesse período áureo de florescimento econômico, entraram mais de 70 mil escravos. Tão intenso era o seu comércio ultramarino que muitos consulados estrangeiros aí se instalaram, para o serviço de vistos. Houve um período em que 600 navios transatlânticos entravam anualmente no Porto. Ubatuba figurava à frente dos municípios de maior renda da Província. Até a primeira máquina de tecelagem do Estado foi importada por Ubatuba para Taubaté.

As ruas fervilhavam de gente da terra, viajantes, negociantes, tropeiros, aventureiros e demais forasteiros; nos solares, as festas e bailes adquiriam quase que o mesmo esplendor e luxo da Corte; no seu teatro, afamadas companhias nacionais e estrangeiras, de passagem para outras cidades portuárias de importância, nele representavam dramas, comédias e até óperas mais em voga; e, também, cultuavam-se as Musas - no célebre Ateneu Ubatubense, que funcionava como escola e centro literário, dispondo de notável biblioteca de mais de 5.000 volumes apresentados em bem impresso catálogo, grande parte dela doada por S. M. Sereníssima, o Imperador Dom Pedro II.

Fonte:
Ubatuba sua opção de lazer


Quando no começo dos anos 50 os fundadores e jogadores do Clube Atlético Beira Mar - mais conhecido por alguns como Risca Faca - deram pontapé inicial primeiro ao clube de futebol, depois ao social, não poderiam imaginar que estariam colaborando para o início de quase duas décadas de mudanças sociais, econômicas e políticas em Ubatuba. E foram, provavelmente, as duas décadas no meio do século passado em que os ubatubanos fizeram valer e crescer o lado sócio-cultural e paralelamente o político econômico da cidade. Não mais haveria essa consentaneidade.

Ubatuba teve seu ápice no século XIX (ver introdução). O porto ajudara em sua expansão como principal rota de distribuição de mercadorias vindas de Minas e Vale do Paraíba. Com a inauguração do porto de Santos e tornando-se este o principal da região, Ubatuba deixou de ser o centro comercial, sua atração econômica e parecia que os deuses haviam-na esquecida. Houve retração em tudo. Voltamos a ser uma vilazinha e das mais mixurucas. Referências, quando feitas a respeito da cidade evocavam o período áureo do porto, dos casarões antigos e de figuras que por aqui aportaram. Da gente da terra quase nada se falava, quando falava.

Os anos 50 com o fim do Estado Novo, com eleições livres e crença num país melhor e mais desenvolvido fez com que acreditássemos que poderíamos provar, não para os outros, mas para nós mesmos que era possível sair daquela estagnação mental, social, política e econômica. O fim da segunda guerra trouxera mudanças ao país e uma nova geração estava mais sintonizada aos grandes centros como São Paulo e Rio. Esta nova geração queria participar, se inserir no contexto (expressão que na verdade apareceria nos anos 70), contribuir para melhorar sua situação e, et pour cause a dos que viriam.

Ao final dos anos 50 aquela geração já havia conseguido a abertura da estrada Caragua-Ubatuba, a melhora do Colégio Dr. Esteves da Silva, o Cine Iperoig, o novo prédio do Fórum.

E mais viriam em 60. Dois clubes sociais, um com sede esportiva e social em frente à principal avenida da cidade, a mudança da sede da Prefeitura e uma competição natatória que atrairia e atrai até hoje a atenção dos aficionados.

Fábricas de palmito, conservas e sardinhas dariam mais força econômica à vida caiçara.

Ubatuba participaria dos jogos abertos do interior, um colégio de freira ALA (Cônegas de Santo Agostinho) aqui se estabeleceria com ginásio, internato/externato para as meninas da região. No final de 60 e início de 70 viriam a Escola de Comércio (ETEC Tancredo) e o novo ginásio EE Cap. Deolindo O Santos.

Ademar de Barros faria sua casa por aqui. Matarazzo idem, e ficaria para ser prefeito com o auxílio de Toledo Pizza. A avenida Iperoig passaria a ser o point nas incursões noturnas dos boêmios e não boêmios. Os jogos de carta que tanto sucesso fizeram na década de 50 começavam a dar vez a bailes, boates e otras cositas mas. Do Beira Mar à boate Da Pesada, já em final de 60, Ubatuba se transformava e começava a ser notada novamente.

Quem vivenciou estas referidas décadas acreditava que muito mais poderia ser feito. Deixaram um legado, o que não é pouco. Parece que não aprendemos a lição. Nestes últimos vinte anos conseguimos pulverizar tudo o que havia sido feito. Nem um clube social temos mais. Nem mesmo um Risca Faca! Perdemos nossa identidade. Quem são os cidadãos desta cidade? Quem? Sabemos que nós ubatubanos estamos em fase de extinção. Pereceremos sem olhar para trás? Que legado vamos deixar aos nossos filhos, caiçaras como nós?

As ruas fervilhavam de gente (não da terra), viajantes, negociantes, tropeiros, aventureiros e demais forasteiros. Pisam em nossa terra e não sentem. Molham-se em nosso mar e não sentem. Caminham em nossas ruas e não vêem. Como diz o poeta ao desistir de um porvir melhor: "uma gente que vive só pra si..." Ao contrário dele e deles não devemos desistir.

Precisamos resgatar nossa história e conhece-la para não reprisar os mesmos erros. Como um porto que deveria e poderá ser nosso destino e abrigo de onde possamos partir e, se necessário, voltar e celebrar nosso passado, presente e o futuro que sabemos forjados pelo que plantarmos.

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