Nesta manhã de março ganhei a rua, com destino certo e fim determinado, desde que ontem, quando em uma livraria encontrei o irmão de uma amiga-irmã, que Deus, há seis anos levou para habitar no "Condomínio dos Anjos". E, aqui estou eu na esquina de uma rua em um dos bairros chamados de "nobres" da cidade. A emoção e a ansiedade me assaltam os olhos a procura da casa, do jardim, do portão da entrada e o terraço, gaiolas de passarinhos, a janela da frente, sempre aberta e o vento brincando com cortina branca fina e transparente que acenava para os que pela calçada passavam, naquela hora da manhã. Bonita, bem cuidada, aconchegante, acolhedora, misto de simplicidade e grandeza do coração generoso de uma mulher, que dividia sua vida, coração e alma, entre a família, o trabalho, os amigos, o amor e o dever. Ali estava eu, mas, naquela rua, no mesmo lugar, não tinha mais casa.... Agora, hoje, a casa só existe na minha memória, na minha lembrança, continua erguida. A memória e a lembrança, amparando-se uma na outra, de mãos dadas andam entre os canteiros do pequeno jardim... e passo a passo vão ao encontro de um menino e de uma menina, que no balanço armado, a sombra de um jambeiro, alegres e felizes brincam. A lembrança surpreende a memória quando uma voz, pela emoção embargada, convida para sentar-se naquele mesmo banco. É o silêncio, pela emoção, convidado, senta-se entre as duas e, logo percebe que, nem o singelo banco de jardim existe mais. E agora... fazer o que... conversar com quem... dizer o que... O silêncio continua calado e mudo. E, a memória vai alimentando a lembrança aguçando o sentir falta da amiga, que se foi antes de nós. E agora, aqui, levada pela amizade que o tempo de ausência transforma em boas lembranças e na saudade amena e quase doce a gente constada que afinal é tudo que resta. E eu aqui a constatar: a casa, aquela casa que abrigou vidas e sonhos, alegrias e tristezas, momentos de lazer e felicidade, agora, como que, por encanto é um prédio, de dez andares! Entro no carro, mas não dou partida. Parada, inerte e pensativa com as duas mãos ao volante postas, apenas. Olho para frente de mim! Eu, me pego, não me olhando de frente, porém, me olhando na frente do tempo que imagino a mim, restar... e bato de frente com a crueza e a realidade da pequenez humana que em mim se acentua no "Nada, é para sempre". É assombroso sim, constatar que aqui: "Era, uma vez uma casa".
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