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Opinião
31/03/2013 - 07h05
Saúde pública x saúde privada
Emílio César Zilli e Florentino Cardoso
 

Somos de um tempo em que um médico de referência em seu consultório, era também médico de um hospital público, sempre de qualidade. Naquele tempo não tínhamos o SUS. O atendimento médico limitava-se àqueles empregados que contribuíam para os seus institutos e recebiam dos mesmos, através de hospitais próprios, a sua assistência à saúde. Os outros, que não descontavam para os “institutos”, eram atendidos pela rede pública que, igualmente, era eficiente e resolutiva. Isto, é claro, no Rio de Janeiro, a antiga capital da República, que concentrava os melhores médicos e melhores hospitais. Naquele tempo, a UFRJ, a UERJ e a Faculdade de Medicina e Cirurgia, acompanhadas bem de perto pela Escola Médica do Rio de Janeiro da Universidade Gama Filho, eram o sonho e o desembocadouro de tantos jovens idealistas que escreveram a história da medicina em nosso país.

Era o tempo do Hospital dos Servidores do Estado, hospital da corte, do Hospital do Andaraí, Hospital Ipanema, Hospital da Lagoa, Iaserj, Bonsucesso, Gamboa, sem falar do Miguel Couto, Souza Aguiar, Salgado Filho e do mesmo “longínquo” Getúlio Vargas. Eram todos, acreditem, TODOS, hospitais de referência. E o seu corpo técnico: médicos, enfermeiras, atendentes, serventes, ascensoristas, diretores (na época ainda não se chamavam gestores...) profissionais competentes, responsáveis e orgulhosos de suas funções.

Em um bom momento foi criado o SUS!

Uma tentativa, ou um sonho, de reproduzirmos para todos os brasileiros, de Norte ao Sul deste país, uma assistência médica que até então só se conduzia na capital federal e se repetia em menor escala em outras capitais como São Paulo, por exemplo. Um sonho de dividirmos o melhor, e não este pesadelo de dividirmos para piorar.

A constituição cidadã de 1988, daria forma e contexto a este sonho! E como em um passe de mágica, todo brasileiro teria direito pleno a uma saúde equânime e universal, garantida como direito do cidadão e obrigação do estado.

Vivemos este sonho! E foi um momento mágico! Para nós e toda aquela geração de médicos e profissionais de saúde que buscaram, no saber e na excelência, uma forma de aliviar o sofrimento de um povo já, historicamente, tão explorado e sofrido!

Os tempos passaram...

Hoje, abrindo os jornais, deparamo-nos com a informação que o ministro da Saúde do meu país discursou a favor da “importação de médicos cubanos e de outros países para resolver o problema da assistência desproporcional da saúde”. E o senhor ministro da Educação (?) defende a abertura de novas faculdades (?) de medicina. Interessante o Brasil... Dentre todos os países do mundo, só perde em número de faculdades de medicina para a Índia, que tem quase seis vezes numericamente a nossa população. Será que estas autoridades falam sério? Será que foram orientadas por quem realmente quer ver uma saúde pública melhor para todos? Será que foram ouvidos pacientes, médicos, profissionais de saúde, enfim aqueles que realmente entendem e frequentam os corredores do SUS?

A quem interessa esta “importação”? A quem interessa esta nova “abertura” de faculdades? Ao povo brasileiro? Aos pacientes do SUS? Aos usuários da saúde suplementar? Claro que não! Ela interessa, isto sim, a um “status” que não conseguindo cumprir suas obrigações constitucionais, lança mão de artifícios e factoides, referenciando médicos de qualidade inferior, para atender pacientes que, discriminadamente (apesar do discurso contrário), consideram como “inferiores”. Confundem deliberadamente a opinião pública e demonizam os profissionais da saúde como os responsáveis pelo vergonhoso desempenho da saúde pública e também privada em nosso país. Ela interessa, principalmente, àqueles que, à luz de motivos inconfessáveis, enriquecem com o sucateamento do SUS e da qualidade do ensino médico em nosso país.

A medicina que nos interessa, a todos nós como usuários, é aquela exercida por profissionais competentes, qualificados, valorizados em seu exercício profissional, mediada por um estado comprometido com a nossa saúde, e não outra, arquitetada pelos meandros políticos das conveniências partidárias.

Não nos iludamos! A diferença entre saúde pública e privada não interessa a nenhum de nós. Sejamos pacientes que necessitam de assistência ou profissionais de saúde conscientes e honestos. Interessa, isto sim, a uma administração irresponsável e aos que “vendem” saúde e lucram com a sua ausência!

Não temos conhecimento de nenhum médico que foi treinado em duas “medicinas”; a pública e a privada! Conheço sim, médicos e profissionais, entre os quais nos incluímos, que são formados para exercer a medicina de uma forma plena, integral e igualitária. E foram forjados em hospitais públicos. Como no sonho do SUS!

Temos condições de ainda sonhar! Para isto, temos que repelir estas atitudes politiqueiras e corporativas que, infelizmente, impedem o nosso caminho para uma medicina pública eficiente, ética e democrática. Como no sonho do SUS!

Chega de gestores! Precisamos de médicos e profissionais de saúde competentes. E isto não nos falta! O que nos falta é caráter e espírito público! Este é o sonho do SUS! O nosso sonho!


Nota do Editor: Dr. Emílio César Zilli é diretor de Defesa Profissional da Associação Médica Brasileira e o Dr. Florentino Cardoso é presidente da Associação Médica Brasileira.

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