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Opinião
09/04/2013 - 12h16
Escola de Princesas... como?!?
Breno Rosostolato
 

Ao que tudo indica, os sinais evidentes da emancipação feminina estão aí, expostos e dão as cartas nos dias de hoje. Mulheres independentes e autônomas, inseridas no mercado de trabalho, ocupando e desenvolvendo funções antes não imaginadas. Mulheres que possuem responsabilidades que extrapolam os papéis definidos por uma sociedade machista e sexista. Mas ao que tudo indica também, na mesma proporção da emancipação feminina, a resistência a esta liberdade, infelizmente, é ainda muito presente nas mentalidades de homens e de muitas mulheres. Um movimento invisível, mas real e destrutivo, desqualifica esta autonomia das mulheres, em que se defende o conservadorismo de funções estereotipadas de gênero, ou seja, posições sociais determinadas entre masculino e feminino, o backlash.

Exemplo deste retrocesso do backlash são os conceitos distorcidos ensinados em uma escola na cidade de Uberlândia, a Escola de Princesas. No curso, crianças entre 8 e 12 anos são ensinadas a se comportar e obedecer os padrões de educação de um sistema patriarcal ocidental, que existe desde a época medieval. Arcaico e arbitrário, as meninas são apresentadas a conceitos preconceituosos, em que aprendem a se portar na mesa como princesas, usando vestimentas antigas, preocupação com maquiagem e adotando regras de etiqueta rígidas. A precocidade imposta e uma cultura de “adultização” de crianças se mistura a uma aculturação de meninas num papel de gênero discriminatório. Incentivadas por mães que reforçam a fantasia e a ilusão. Assistem mulheres se preparando para agradar maridos. Provavelmente, são estas mães que, assim como a dona da escola, vão contra a igualdade entre os gêneros e se opõem a estas mudanças.

O curso para princesas pauta-se nos contos de fadas, em que, meninas postulam o trono junto ao príncipe que virá salvá-las. Inclusive, contos de fadas são histórias que acentuam a submissão da mulher ao homem. Rapunzel, Cinderela, Branca de Neve e A Bela Adormecida, todos estes contos possuem como informação central a fragilidade da mulher e enaltece o poder do homem. A figura masculina é o detentor da integridade, generosidade e benevolência. O cerne dos contos de fadas é que o homem é forte, dono do reino ou numa posição social privilegiada, além de que, é quem despertará a mocinha de seu sono profundo. A mulher é fraca e indefesa, prostrada e cerceada. Julgada como miserável, enclausurada, impedida de viver alegremente, ameaçada por bruxas, madrastas más ou aprisionada numa torre, estas personagens são mulheres que só sairão da miséria e atingirão respeito se relacionando com um homem. Não é a toa que na hora do sapatinho de cristal, as irmãs de Cinderela decepam os pés para que ele se encaixe perfeitamente e assim consigam conquistar o amor do príncipe.

As candidatas a princesas da escola de Uberlândia aprendem a se adaptar às exigências da sociedade e, portanto, enquadrar-se em conceitos de beleza escravizadores, fantasias e idealizações. As meninas deveriam ser incentivadas a desenvolver suas próprias capacidades, potencialidades e talentos.

Crianças não deveriam ser bombardeadas com concepções de conservadorismo, padrões de beleza e condutas rigorosas de comportamento. Atentar-se a esses costumes a tão tenra idade prejudica a infância. Além de anular a infância, antecipa etapas na vida que deveriam ser vivenciadas de acordo com o desenvolvimento psicossocial. As meninas devem ser incentivadas a descobrir seus potenciais e capacidades. Buscar relacionamentos que se baseiam na igualdade e na reciprocidade, em que o afeto seja mútuo e sincero, sem exclusividades de homens ou mulheres. Neste sentido, a escola de princesas é um desserviço para uma sociedade que precisa mudar mentalidades e ressignificar as considerações entre homens e mulheres.


Nota do Editor: Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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