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SEÇÃO
Crônicas
12/04/2013 - 09h00
Adjetivos
Vany Grizante
 

“Num final de tarde, na praça, ela olhou ao longe e viu aquele homem se aproximando.”

Nada se depreende desta frase. Não há sentimentos, sensações, vigor; é uma narrativa sem nuances, que apenas informa o leitor de algo que está acontecendo.

Mas se mudarmos ligeiramente a frase, inserindo certas palavras – no caso, apenas três -, a narrativa ganha contornos muito diversos, como por exemplo:

“Num final de tarde nebuloso, na praça deserta, ela olhou ao longe e viu aquele soturno homem se aproximando.”

Ou então:

“Num agradável final de tarde, na praça florida, ela olhou ao longe e viu aquele homem adorado se aproximando.”

Adjetivos fazem toda a diferença. Dão cor, luz e sentido às palavras; transformam a narrativa conforme a sensação que o escritor queira transmitir ao leitor. Na primeira frase modificada, percebe-se uma certa tensão; na segunda, apenas alegria e tranquilidade.

Porém nem só de adjetivos vivem as palavras. Existem algumas que, por serem completas de sentido, não necessitam de nenhuma qualificação – e, pelo contrário, trazem em si todas as sensações possíveis, nem sequer admitindo que sejam moldadas por outras.

Acho que Amor é uma destas palavras. Certo que se tenta subdividi-lo em amor filial, fraternal, divino, romântico... mas acredito que amor é um só, manifestado de formas diferentes, porém sem que seja possível ser qualificado. Paz, também. Concordo que se pode falar em “paz duradoura”, mas aí estamos nos referindo a um período sem guerras, e não à sensação de paz. Enquanto sensação, é completa - não admite qualificação.

Carinho, Harmonia, Beleza... Palavras plenas de sentido, não me sinto capaz de classificá-las!

Porém há palavras que, para mim, resumem em si toda a categoria das palavras não adjetiváveis. Lembro-me de duas delas: a primeira é Liberdade. O que dizer mais? A própria palavra se entende sem amarras, sem classificações. Não aceita condições – a “liberdade condicional” do sistema prisional não é liberdade, é um indulto, um parênteses, uma outra coisa. Liberdade é uma só, indivisível e, claro, livre.

A segunda palavra é Justiça; a partir do momento que se rotula a justiça, ela deixa de ser justa. Ou é ou não é, e por isso prescinde de adjetivos. A palavra Justiça é plena e não necessita de explicações – ou ao menos não deveria, jamais...

Porém, mais que tudo, ao invés de tentar adornar estas palavras com adjetivos, deveríamos trazê-las juntas entre si, já que, sem suas companheiras igualmente plenas de sentido, chegam a nem existir de fato:

Amor sem Carinho, Harmonia sem Paz, Justiça sem Liberdade.

E vice-versa.


Nota do Editor: Vany Grizante (vanygriz@gmail.com) é arquiteta e escritora em São Paulo, SP. Escreve no site "Recanto das Letras" desde 2007. Publicou o livro "Abelhas sem Teto e outras crônicas" pela Editora All Print e participou da coletânea "Universo paulistano vol. II" da Editora Andross, ambos em 2010. Sua tese de mestrado sobre ambiente de trabalho na indústria encontra-se disponível para download no site: www.teses.usp.br.
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