Tremores, lentidão dos movimentos, falta de equilíbrio e rigidez dos músculos são os sintomas mais observados nos doentes com doença de Parkinson, condição neurológica degenerativa, que progride lentamente e torna-se altamente incapacitante com o passar dos anos, a ponto de o paciente não conseguir realizar atividades simples como, por exemplo, abotoar a própria camisa. O Ministério da Saúde estima que a prevalência da doença no Brasil seja de 100 a 200 casos para cada 100 mil habitantes. Habitualmente, os sintomas surgem depois dos 65 anos de idade. Porém, aproximadamente 15% dos doentes com a doença de Parkinson a desenvolvem antes dos 50 anos. Os primeiros sinais da doença são quase imperceptíveis como, caligrafia menos legível, fala monótona, lapsos de memória e depressão que podem ser confundidos com outras doenças. Com o passar do tempo, os sinais tornam-se mais evidentes e paulatinamente diminui-se a qualidade de vida. Apesar de toda a evolução observada na área médica nos últimos anos, a doença de Parkinson ainda é de difícil diagnóstico e sem cura. Quando finalmente a doença é diagnosticada, o paciente é encaminhado para o tratamento padrão com medicamentos de uso contínuo. Entretanto, após anos, as drogas deixam de surtir os resultados esperados e os efeitos colaterais acentuam-se e incapacitam os pacientes. Ainda não existem medicamentos capazes de evitar este processo. Porém, desde a década de 1980 a estimulação cerebral profunda (DBS) tem sido usada para reverter os seus sintomas motores. Consagrada em todo o mundo, mas ainda pouco utilizada no Brasil, a DBS consiste do envio de estímulos elétricos a determinadas regiões do cérebro, para controlar e coordenar os movimentos involuntários e a retomada do equilíbrio. Este procedimento é minimamente invasivo e totalmente reversível. O neurocirurgião implanta um aparelho chamado neuroestimulador, semelhante a um marca-passo, sob a pele do peito e liga-o a eletródios implantados no cérebro com a função de enviar estímulos às regiões responsáveis pelo controle dos movimentos. Embora a DBS seja o tratamento disponível mais avançado e de grande significado para a retomada da qualidade de vida dos pacientes com doença de Parkinson, um número muito restrito de brasileiros têm acesso a esta tecnologia. Alguns hospitais públicos oferecem a terapia, mas poucos pacientes podem ser atendidos. Mesmo no sistema privado, poucos convênios autorizam o procedimento devido aos altos custos envolvidos. Um estudo recente publicado no The New England Journal of Medicine comprovou o grande benefício dessa tecnologia para tratar pacientes nos estágios iniciais da doença. Um grupo de pacientes que recebeu a estimulação cerebral profunda juntamente com o tratamento medicamentoso apresentou melhora média de 26% de sua qualidade de vida e diminuição da dose das drogas, enquanto que aqueles tratados apenas com o melhor tratamento medicamentoso não obtiveram qualquer melhora e as doses precisaram ser aumentadas. Essa é uma tecnologia que pode beneficiar muitos pacientes e que deve ser oferecida também aos brasileiros. O nosso País não pode ficar à margem dos progressos na saúde que já são realidade em outras partes do mundo. Nota do Editor: Dr. Manoel Jacobsen, Diretor da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.
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