“Greve é a cessação coletiva e voluntária do trabalho realizada por trabalhadores com o propósito de obter benefícios, como aumento de salário, melhoria de condições de trabalho ou direitos trabalhistas, ou para evitar a perda de benefícios”. Essa definição, constante da legislação trabalhista, dá o verdadeiro sentido das paralisações. Mas, há muito tempo, as greves brasileiras têm servido principalmente a bandeiras políticas, sustentação de interesses eleitorais e até para a nomeação de seus promotores em cargos de governo. Isso constitui, no mínimo, um flagrante desrespeito aos trabalhadores. Vemos em curso ou para eclodir, greves de professores, pessoal da justiça, da saúde, metalúrgicos, aeronautas e outras. Muitos desses movimentos, embora reivindiquem direitos trabalhistas, têm seus focos voltados para a política partidária e as próximas eleições. As reivindicações são preteridas diante do apetite eleitoral ou adesista de seus líderes que, em vez de política sindical, fazem a política do próprio interesse. Nada impede que o sindicato ou associação tenha seu direcionamento político e até simpatia partidária. Mas isso não pode se promiscuir com a tarefa de representar o filiado, que é a principal. Por conta da politização do sindicalismo e principalmente da greve, o lado oposto, constituído pelos governos e patrões, deixou de respeitá-los e dificulta negociações. Reagindo à má vontade patronal, os reivindicantes fazem pedidos acima das conhecidas possibilidades econômicas e, com isso, cria-se o impasse. Os serviços – principalmente o público – paralisam-se, em prejuízo do usuário, e o trabalhador não se beneficia. Precisamos reencontrar o ponto de equilíbrio e da razoabilidade. Não misturar as atividades reivindicatórias com a fome política das lideranças e, com isso, construir relações mais verdadeiras. De nada adianta empregados pedirem aumentos astronômicos e nem empregadores oferecerem índices ínfimos, se todos sabem o que é razoável. Questão de coerência. Os trabalhadores ainda não atentaram para um detalhe. Desde que apresentem reivindicações compatíveis, se essas não forem aceitas, terão força para obtê-las via dissídio judicial e, ainda, poderão, como instrumento de pressão, realizar campanhas de boicote aos produtos das empresas que não pagam impostos, maltratam ou negligenciam direitos dos seus funcionários ou cometem qualquer tipo de inconformidade. O mesmo poderá se fazer aos governantes que deixam de cumprir suas obrigações patronais, boicotando-os nas próximas eleições. Quanto ao sindicalista que quiser fazer política partidária, que a faça num partido político, não no sindicato... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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