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Crônicas
23/04/2013 - 09h03
Miserável e Sem um Níquel
Antonio Brás Constante
 
(Nova dupla nas paradas... De ônibus)

A ideia inicial deles seria fazer um contraste musical à dupla Milionário e José Rico, começariam sua carreira se apresentando em locais públicos, como, por exemplo, em praças. Eles chegariam de surpresa e já sairiam tocando... Tocando os mendigos dos bancos para que eles pudessem utilizá-los como palco.

Atuariam como nômades musicais, visto que ninguém agüentaria tê-los por perto por muito tempo. Diferentemente dos CDs de sucesso que são um estouro, o CD da dupla Miserável e Sem um Níquel antes mesmo do lançamento já seria considerado uma verdadeira bomba. Eles tocariam de ouvido, principalmente, porque não teriam qualquer vontade ou impulso masoquista de retirar o ouvido para tocar.

Muitas das gravadoras que receberam o material enviado por eles acabaram lançando o CD, e de uma forma bem simples, ou seja, eles lançaram o CD no lixo ou pela janela, e em seguida abriram a porta e lançaram a dupla para fora de seus estúdios. Mas os dois cantores eram tão persistentes quanto suas melodias eram irritantes, e acabaram encontrando formas criativas de expor a sua arte ao mundo. A divulgação de suas primeiras músicas foi algo de parar o trânsito, feita em uma sinaleira bem no horário de pico, em uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, que de tão movimentada acabava sempre parando e se transformando em palco de um dos já tradicionais engarrafamentos da cidade.

Quando eles cantavam a multidão gritava enlouquecida: “para de cantar!”, “PARA DE CANTAR!” (para quem não sabe o título do CD da dupla e uma de suas principais músicas é exatamente o hit: “Para de cantar”, feito em homenagem aos fãs).

A dupla começou a fazer sucesso somente quando passou a produzir “jingles” para políticos locais (sem serem solicitados por eles), enterrando muitas carreiras políticas, e com isso ganhando a simpatia da população e dos adversários de outros partidos, bem como uma boa grana, visto que enquanto os tais candidatos “agraciados” com suas composições acabavam pagando a eles para que nunca mais cantassem aquilo, seus adversários pagavam o dobro para que a cantoria continuasse até as eleições.

Com o sucesso obtido através de seu já consagrado fracasso musical a dupla parou de andar a pé e passou a andar de Mercedes, com motorista. Tinham várias Mercedes a sua disposição, bastava apenas que ficassem algum tempo em qualquer ponto de ônibus da cidade, esperando que o ônibus que queriam aparecesse (a frota da cidade era toda da Mercedes).

Ao término do período eleitoral a dupla acabou voltando ao anonimato. Até que um dia os barzinhos da cidade, que tinham muita dificuldade para conseguir encerrar o expediente de seus estabelecimentos dentro do horário estabelecido, e buscando alternativas para conseguir isso sem ter que pedir aos clientes simplesmente para irem embora (visando cumprir as determinações da lei e evitando assim pesadas multas), começou a contratar os serviços musicais da dupla, que mal pisava nos palcos e já percebia o povo todo gritando, se acotovelando e até chorando, para ver quem conseguia fugir primeiro daquele local.

Que fim a dupla levou? Não se sabe ao certo, mas depois das denúncias de torturas na prisão de Guantánamo onde foram encontrados vários CDs da dupla, com etiquetas coladas com os dizeres: “CUIDADO! Utilizar apenas em casos extremos”, eles finalmente sumiram do cenário musical. Mas fizeram escola e deixaram um importante(?) legado, que foi transformado, mixado e temperado com um contagiante batidão e pela troca de suas letras originais por outras como, por exemplo: “Só quem cai chora! Nas privadas...” por “São as cachorras! As preparadas...”, criando e viciando novas gerações com as derivações de seu estilo musical, tanto que hoje podemos perceber nas rádios e demais aparelhos de fazer barulho a essência horripilante e profana de suas canções, atualmente conhecidas como por vários nomes esquisitos e de poucas letras. Acredite, se quiser...


Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc.blogspot.com) é escritor.

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