O mundo inteiro viu, pela televisão, jornais e outros meios de comunicação, a grande caçada que 9 mil agentes policiais empreenderam para a captura dos irmãos Tsarnaev, que detonaram as bombas na maratona de Boston. Um restou morto com mais de 100 tiros, o outro preso em estado crítico, e o povo aplaudiu, aliviado. Não apareceu ninguém para reclamar de violência ou excesso policial, apesar dos muitos tiros e bombas empregados na operação. Até o presidente assumiu a sua parcela de responsabilidade na repressão, empreendida em nome do Estado, e agora cobra investigações para conhecer a motivação e os envolvimentos do ataque. As polícias norte-americanas, européias e orientais, de todos os países desenvolvidos, dispõem de quadros e, principalmente, do apoio estatal para desempenhar suas funções de manutenção da ordem e combate ao crime. Até os excessos ou enganos que reconhecidamente cometem são perdoados pelo Estado e sociedade, em nome da manutenção da segurança pública. Exemplo claro disso está no caso do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano no metrô de Londres. Os policiais que o eliminaram nem foram punidos. Um deles, hoje é treinador da equipe nacional de hóquei olímpico. O caso terminou como um “lamentável engano” e seus protagonistas admitem o erro, lembrando que, se em vez de Jean, tivessem encontrado o terrorista procurado, teriam sido convertidos em “heróis”. Foi o que ocorreu em Boston. No entanto, a doutrina de segurança pública, praticada no chamado “primeiro mundo”, é ignorada em muitos lugares, inclusive no Brasil. Braço armado do Estado, a polícia, que deve ser o último recurso, chamado para restabelecer a ordem quando todos os outros meios foram infrutíferos, é erroneamente enviada como solução. Aí, quando ocorrem confrontos, feridos e mortos, sua atuação é contestada, ironicamente até por aqueles em nome de quem foi levada a agir. O episódio do Carandiru é emblemático. Vinte anos atrás, facções criminosas, que disputavam o domínio interno do presídio, entraram em confronto. Depois que haviam se esgotado as possibilidades de apaziguamento, a entrada da polícia foi determinada e, como resultado, 111 detentos morreram. O episódio foi politizado, sustentou o discurso fácil de muitos candidatos e até do próprio governo. Agora, parte dos policiais envolvidos na operação é condenada à fantasiosa pena de 126 anos de prisão. A instituição policial possui seus regulamentos e, para segurança da sociedade, pune administrativamente os excessos. Mas, além desse controle, ainda existem os contumazes críticos que vêem excesso em toda ação. E, na cortina de fumaça que criam, desenvolve-se a escalada criminosa. Sensível diferença entre o tratamento recebido pelas polícias dos EUA, Inglaterra e outros países desenvolvidos, e a reprova a que se submete a polícia brasileira. Heróis os de lá, execrados e condenados os de cá. Lamentável... Lamentável, mesmo! Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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