Toda vez que lemos notícias sobre a seca no Nordeste e o seu combate, parece que estamos diante de jornais antigos, dos anos 40, 50, 60 ou 70 do século passado. As informações são as mesmas. O sertanejo sofre, migra, se dá mal no grande centro e, quando pode, volta, apesar dos problemas. Os governos destinam verbas de milhões, seus órgãos são inchados por apadrinhados políticos e tudo serve quase que exclusivamente para sustentar o impatriótico mercado de apoio político, onde o governo loteia seus postos – parte deles regiamente pagos – entre os indicados dos parlamentares e líderes regionais que, em troca, dão seus votos congressuais para formar a chamada “base aliada”. Para garantir a própria reeleição, esses senhores usam como cabos eleitorais os seus abrigados nos cargos do governo, pouco se importando se eles cumprem ou não com as obrigações funcionais. O povo continua desassistido, na miséria e com sede, explorado em todos os aspectos. Mas as verbas governamentais saem continuamente dos cofres públicos. Empreendimentos são iniciados e não acabados, interesses dos eternos rufiões dos flagelados determinam campanhas contra obras que possam reduzir a dependência, e o sofrimento continua. Governos populistas prometem tudo, fazem grandes festas onde o povo é informado de que sua situação vai mudar, mas falta comprometimento e continuidade. Agora, os órgãos de combate à seca são disputados por políticos da região, que lutam pela sua mudança de um ponto para outro – conforme os próprios interesses – sem qualquer preocupação com sua produção. DENOCs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) sofrem as incertezas dos seus donatários políticos. A região ainda possui a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), criada por Juscelino em 1959, extinta por FHC em 2001 e recriada por Lula em 2007, mas a seca prevalece. A transposição das águas do Rio São Francisco projetada para distribuir água a 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte - uma população de 12 milhões de nordestinos – ainda não rendeu uma gota sequer, mas já consumiu elevadas somas de dinheiro público. Já começam as movimentações para as eleições do próximo ano – quando o eleitorado será chamado a votar em presidente da República, governadores dos estados, senadores e deputados federais e estaduais. Candidatos – da situação e da oposição – percorrem a região renovando as antigas e surradas promessas. E o pior é que o sertanejo, sem outra opção, ainda acredita. O país precisa de um novo pacto político-administrativo. Enquanto se mantiver a barganha de cargos por votos legislativos, a seca continuará no Nordeste, os desastres se repetirão nas regiões de encostas e aluviões e os recursos públicos dificilmente chegarão aos necessitados. Esse não é o Brasil com que todos sonhamos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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