Incêndios como a tragédia de Santa Maria são alerta para os riscos do poliuretano, substância presente em travesseiros, colchões, sofás e até mesmo bancos de carros
Incêndios como o que ocorreu na boate Kiss, em Santa Maria (RS), já mataram centenas de pessoas em todo o mundo. Dentre eles, podemos citar os que ocorreram nas boates República Cromagnon, em Buenos Aires (2004), ou Station, em Rhode Island, nos Estados Unidos (2003). Estes incêndios têm em comum a principal causa de morte: exposição à fumaça em ambientes fechados. Na tragédia de Santa Maria, o poliuretano, material utilizado para revestimento acústico da boate, foi apontado como o motivo para a rápida propagação do fogo. Pior que isso, sem o tratamento adequado, este material, quando queimado, libera cianeto e monóxido de carbono. “Uma vez inalado, o monóxido de carbono, por se ligar à hemoglobina com maior afinidade, dificulta o transporte de oxigênio necessário à respiração celular. Esse fator, agregado à redução de oxigênio no ar (devido ao seu consumo pelo incêndio e pelo ambiente ser fechado) e ao bloqueio do uso de oxigênio na célula (ocasionado pelo cianeto) é a principal causa de óbitos em eventos como os ocorridos nas referidas boates, explica dr. Ubiratan de Paula Santos, médico da divisão de pneumologia do Incor e coordenador da Comissão de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT). O processo todo acontece muito rápido. Cerca de um minuto e meio foram suficientes na boate Kiss para tornar a fumaça completamente enegrecida, dificultando às pessoas que se orientassem espacialmente. Por isso, é importante que esses estabelecimentos tenham muita atenção às saídas de emergência. As lesões A queima de produtos e a geração de gases tóxicos, provenientes da tinta e do estofamento da boate, são os causadores das irritações da mucosa e dos pulmões. A partir daí seguem dificuldade para respirar, bloqueio de secreção, inflamações que vão desde o nariz (pelas vias aéreas superiores) até traqueia, brônquios, bronquíolos e, em alguns casos, chegam à região alveolar, levando à insuficiência respiratória. Também pode ocorrer a síndrome de disfunção reativa das vias aéreas (RADS), caracterizada pelo quadro de asma que surge horas depois de inalado o agente nocivo. Não só a fumaça pode causar essa asma, como também a exposição a substâncias químicas, geralmente em ambiente de trabalho industrial. Há ainda lesões por inalação de fumaça que se manifestam de 36 a 48 horas após a inalação da fumaça. Por isso, em caso de exposição à fumaça em ambientes fechados, é imprescindível consultar um médico o mais rápido possível. “Monitorar a pressão arterial, aumentar a oferta de oxigênio, ofertar antídoto para cianeto (hidróxido de cobalamina) se houver suspeita de queima de poliuretano ou sinais de instabilidade hemodinâmica e dificuldade de reversão do quadro respiratório e, se necessário, realizar broncoscopia são algumas das providências indicadas para apuração das consequências da intoxicação”, sugere o dr. Ubiratan. Poliuretano por toda parte Se engana quem pensa que o poliuretano é raro de ser encontrado. Ele está presente em nossos travesseiros, colchas, sofás e até mesmo nos bancos dos carros. Os fabricantes proveem tratamento para que o poliuretano queime mais devagar, mas todo cuidado é pouco. Fica o alerta de antemão: cuidado com cigarros, chapinhas e incensos perto da cama. Caso o esquecimento de uma chapinha ligada sobre o colchão resulte em um incêndio dentro de casa, sair o quanto antes do ambiente é a melhor providência possível. Tentar sanar a situação apagando o fogo pode lhe custar a própria vida.
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