O final de semana revelou mais um mal da sociedade brasileira: a boataria. Beneficiários de 12 estados correram às agências da Caixa Econômica Federal para sacar suas parcelas do Bolsa Família, porque foram informados de que o governo suspenderia o programa. Apesar de antecipar emergencialmente os pagamentos, o banco não conseguiu livrar-se do tumulto, depredações e outros problemas. Mesmo depois que o governo emitiu comunicado dizendo que o programa continuaria normalmente, as agências se mantinham cheias e muito beneficiário temia ficar sem a ajuda. Tanto que o ministro da Justiça mandou a Polícia Federal investigar as origens da onda, para acionar seus autores. É necessário fazer tudo para chegar aos boateiros e contra eles aplicar os rigores da lei. Não pode o episódio terminar lançado no ralo da impunidade que, infelizmente, tem servido para a finalização de todos os problemas no nosso “país do jeitinho”. Agora está claro e demonstrado que um simples boato é capaz de mobilizar multidões e causar dificuldades que vão desde a lesão ao serviço público até a periclitação da saúde da população, levada à corrida atrás de uma mentira. Se isso não terminar com a eficiente penalização dos responsáveis, logo encontrarão outro boato e farão nova corrida aos bancos, comércio, sedes de governo etc. Já faz muito tempo que, sob o argumento democrático, os governantes, a classe política e os movimentos sociais passaram a cultivar a cultura da impunidade. A aplicação das leis foi afrouxada conforme a conveniência de grupos que se alternaram no poder e seus aliados. Tudo era catalogado como “democracia” quando, na verdade, não o era, pois a democracia exige o cumprimento das leis e o respeito aos direitos das pessoas. Todos têm de observar que o seu direito vai até onde começa o do outro etc. Nesse clima permissivo, nasceram e desenvolveram-se as facções criminosas que hoje exercem o poder paralelo nas prisões, o cumprimento das penas foi reduzido ao mínimo (porque assim não seria necessário construir mais presídios) e criou-se o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que, em vez de proteger as crianças, acabou expondo-as à exploração das máfias criminosas. Até que era uma boa idéia, mas a prática revelou-se desastrosa e hoje deságua nas discussões sobre redução da idade penal. O boato é mais uma arma que os adversários da sociedade – especialmente o crime organizado – podem utilizar como instrumento para subjugar a população e desestabilizar as instituições. Espera-se que o governo seja rápido e inflexível no seu combate e não deixe que essa prática se banalize como os incêndios a ônibus, invasões de repartições e propriedades particulares e as outras coisas que hoje tanto incomodam e amedrontam a população. Embora o termo esteja, atualmente, fora de moda, isso é pura subversão... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|