Dados da 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em 2012, realizada pelo Instituto Pró-Livro e executada pelo Ibope Inteligência, mostram que há 88,2 milhões de leitores de livros no País, 50% da população total dos 178 milhões de brasileiros com mais de cinco anos de idade. Foram entrevistadas 5.012 pessoas em 315 municípios brasileiros entre 11 de junho e 3 de julho de 2011. O mercado editorial brasileiro também cresceu 7,36% em 2011, somando R$ 4,84 bilhões conforme pesquisa da Fipe, encomendada pela Câmara Brasileira de Livros e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros. O preço médio dos livros comercializados no País caiu 6,11% no mesmo ano. Ao mesmo tempo em que aumenta seu interesse, o leitor de livros também quer aprimorar a qualidade do que lê, e se depara com obras mais profundas e complexas. E quais os caminhos para escolher entre um clássico e uma releitura de uma obra antiga? O leitor sabe o que ler? A Crítica Literária ainda impacta esta decisão? É sabida a influência das sugestões nos grupos de discussão na internet ou em redes sociais, sejam de amigos ou desconhecidos. O histórico de um autor e a repercussão de sua obra anterior também são critérios muito importantes para esta decisão. Mas nenhum destes indicadores leva o leitor a ter uma percepção mais apurada do conteúdo da obra. Tal qual a prática da leitura em si, que requer tempo, dedicação e um mergulho na história escrita, não é possível compreender o quilate de cada título somente com a opinião instantânea no meio virtual ou no boca a boca social. É necessário obter opiniões densas e embasadas. Em recente entrevista, o escritor Mário Vargas Llosa destaca que a Crítica, incluindo a Literária, distingue o essencial do secundário. Presente na vida humana desde a Grécia Antiga, o Crítico Literário era chamado de criticus, com o significado de crítico ou de censor de obras escritas, conforme usado pelo filósofo Cícero na obra Cartas Familiares. A Crítica Literária empresta seu conhecimento para depurar os textos e traduzir para o leitor as intenções de uma obra, conduzindo-o a uma ou outra publicação, conforme seu interesse. O crítico literário é, ao mesmo tempo, um leitor e intérprete das metáforas e alegorias da vida; um contemplador dos mitos, lendas, símbolos, arquétipos e investigador de seus significados; um observador atento da sociedade e um estudante da psique humana. O termo “crítica” deriva do termo grego kritike (?), significando “a arte de discernir”, ou seja, o fato de discernir o valor das pessoas ou das coisas. No domínio filosófico, Kant utiliza este termo para designar um exame aprofundado da validade e dos limites da capacidade do homem ou de um conjunto de reivindicações filosóficas. Na filosofia moderna, o termo “crítica” designa uma análise sistemática das condições e consequências de um conceito; significa a teoria, a disciplina ou uma aproximação e uma tentativa de compreender os limites e a validade de um conceito. Para grande parte dos intelectuais que estudam esta área do conhecimento, todo e qualquer gênero textual e todos os suportes de comunicação e expressão devem ser objeto de reflexão, com vistas a esmiuçar o conhecimento inserido no material. E esta função é bem cumprida pelo Crítico Literário, que analisa o argumento (enredo), o contexto, o discurso, as ideologias, as ferramentas retóricas utilizadas, o efeito proposto, o efeito obtido, a importância política, a forma, o conteúdo; o valor sócio-cultural, filosófico, pedagógico, histórico, além do valor estético. A opinião de um Crítico Literário tem a capacidade de alavancar uma obra. Recentemente, o estreante Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira, de Arceburgo, município de nove mil habitantes no sul de Minas, autor de "As Visitas que Hoje Estamos" se tornou a nova sensação da literatura nacional. Sua obra foi citada pelo professor de teoria literária da PUC, Luiz Costa Lima, que publicou uma resenha elogiosa sobre o livro num jornal de circulação nacional, em janeiro. Desde então, o trabalho de Ferreira atraiu a atenção e recebeu palavras de louvor de críticos e artistas. O acadêmico Alceu Amoroso Lima dizia que a crítica pertence a um conjunto de atitudes no espírito. Para ele, criticar não era somente se prender a uma obra. Embora precise analisar uma obra pontual, o objetivo direto e imediato, de um crítico literário, para “ver” esta obra por inteiro, ele tem de ultrapassá-la. Deve procurar ver tudo. Ver o conjunto das coisas. Procurar o que fica antes, por trás ou depois da obra. Considerar o conjunto das obras. Nunca perder de vista a totalidade da existência. Não se confinar nunca no recanto da realidade em que se encontra nem confundir o particular com o geral. A composição de nuances de um texto literário que o crítico descreve mostra o quanto ele, ao mesmo tempo, disseca a obra e amplia as fronteiras literárias e a capacidade crítica ao leitor. A Crítica Literária, embora, por ironia, seja muito criticada por muitas vezes elaborar seu raciocínio de uma forma facetada, é um elemento que também abre caminhos do entendimento e para o saber mais amplo e refinado. É uma prática que acrescenta conhecimento, estimula o pensamento e promove o ser humano. Nota do Editor: Ruy Martins Altenfelder Silva, curador dos Prêmios Fundação Bunge e Fundação Bunge Juventude.
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