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Medicina e Saúde
24/05/2013 - 16h07
Dismorfia corporal, a escravidão da estética
Breno Rosostolato
 

Em uma sociedade em que a imagem vale mais do que mil palavras, os padrões de beleza e os modelos de felicidade são determinados pela estética. Tudo aquilo que destoa desta beleza e destes padrões é severamente alvo de preconceitos e discriminações. As pessoas acreditam cada vez mais que a regra para ser feliz deve basear-se na imagem e na aparência. As referências são atrizes, top models e esportistas. Todo o sacrifício é pouco para alcançar este padrão de beleza ou cultivar corpos esculturais. Tudo a favor da estética e contra a saúde, uma vez que, o sofrimento, a dor e o inconformismo são inevitáveis. Esta cultura da perfeição leva a pessoa a uma escravidão da imagem fantasiosa, ocasionando um distanciamento da realidade. A perda da identidade é gradativa e a alienação à vida é uma consequência trágica.

Muitos pais se deparam com o descontentamento dos filhos com a autoimagem. Reclamações referentes ao corpo e ao rosto. Nada é suficiente, nada é o bastante. O jovem para dar conta de seu vazio emocional, para inserir-se em um grupo, ser aceito pelos colegas, estabelecer referências, muitas vezes, compensa através da aparência, o que não afasta o sentimento de apatia e melancolia, mas apenas disfarça o incômodo emocional. Atenção, quando a pessoa fica diante do espelho, ressaltando apenas deformidades ou a busca desenfreada pela estética é persistente, talvez estejamos diante de um caso de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) ou Síndrome de Distorção da Imagem.

A dismorfofobia, como também é conhecida, é uma perturbação da percepção e valorização corporal. Caracteriza-se por uma preocupação exagerada com um defeito real ou imaginada na aparência física. A dismorfia é um termo usado para designar a discrepância ou diferença entre aquilo que a pessoa acredita ser (em termos de imagem corporal) e aquilo que realmente é. A dismorfia seria a base de alguns distúrbios alimentares como a anorexia, bulimia e vigorexia. Na anorexia, o indivíduo tem medo de ganhar peso, mesmo quando está abaixo do peso. Abusam de dietas e exercícios físicos para emagrecerem. Na vigorexia, uma alteração no comportamento, o sujeito exagera na prática de exercícios físicos com o intuito de ganhar massa muscular e atingir um corpo delineado. A anorexia está atrelada à vigorexia, pois ambas possuem como denominador comum esta percepção errônea do próprio corpo. Enquanto os anoréxicos nunca se acham suficientemente magros, os vigoréxicos não se acham suficientemente musculosos. Já a bulimia, a pessoa exagera na ingestão de alimentos. A perda de controle leva a pessoa a usar vários métodos compensatórios como vômitos ou abuso de laxantes, para impedir o ganho de peso.

No Transtorno Dismórfico Corporal, o mecanismo patológico se assemelha a quem sofre de TOC, o transtorno obsessivo compulsivo. A obsessão é uma alteração no pensamento que cria impulsos, imagens, cenas e dúvidas que invadem a consciência. São ideias impulsivas experimentadas como intrusivas e inapropriadas que se manifestam de forma quase involuntária, repetitiva, persistente e normalmente absurda. A pessoa na tentativa de evitá-las ou ignorá-las passa a ter comportamentos ritualísticos a fim de neutralizar a ansiedade causada por estas ideias, daí a origem da compulsão. A compulsão são atos repetitivos, como no caso de verificar se fechou a porta da casa quatro vezes, ou atos mentais como rezar, contar, repetir frases. Comportamentos que atenuam a angústia da obsessão. A pessoa possui o discernimento de que esses pensamentos são reais, reconhecem os excessos e exageros, mas mesmo o juízo crítico não é suficiente para acabar com as atitudes compulsivas.

O TDC não está relacionado apenas à ingestão ou negação do alimento ou na prática de exercícios físicos. O excesso de cirurgias plásticas também é um comportamento típico do transtorno. Cerca de 2% das pessoas que procuram a cirurgia plástica possuem o transtorno. A pessoa se submete a inúmeras cirurgias se mutilando em prol de uma satisfação pessoal. Enganam-se e criam expectativas ilusórias e efêmeras. Cabe aos cirurgiões plásticos estabelecer novas diretrizes para o tratamento dos pacientes e avaliar de fato as motivações e a saúde mental de quem busca a cirurgia plástica. O caso, talvez, mais emblemático seja de Michael Jackson. Cogita-se pelo menos dez plásticas apenas no nariz. Em sua trajetória de sucesso, as marcas das inúmeras transformações no rosto do cantor, além da mudança de cor, decorrência do vitiligo, doença não contagiosa em que ocorre a perda da pigmentação natural da pele. A sequência de cirurgias desfigurou gradativamente o rosto artista.

A dismorfofobia é grave e afeta muito os jovens, numa fase de reconhecimento e busca de novas referências, baseiam-se muitas vezes naquilo que a mídia defende. Em um momento de incertezas, questionamentos e dúvidas, os adolescentes são pressas fáceis à influência dos conceitos ilusórios de uma sociedade superficial, materialista e preconceituosa. Os estereótipos sociais são difundidos como corretos: “tenha um corpo sarado e seja feliz”. Sintomas do transtorno vão desde passar horas observando-se atentamente no espelho, comparação com os outros, incômodo com partes do corpo, a ponto de cobrir e esconder partes que não gosta como pescoço, nariz, ombros, costas entre outras, exagero em maquiagens e roupas, preocupação excessiva com higiene e até aversões a fotos.

A psicoterapia ajuda a pessoa a resignificar a percepção de si, reconectando a imagem real do corpo, favorecendo a integração corpo/mente e fortalecendo aspectos emocionais, valorização e autoestima. Em alguns casos o tratamento medicamentoso é necessário uma vez que pessoas com TDC sofrem também de transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, isolamento, depressão e fobia social.


Nota do Editor: Breno Rosostolato é psicólogo clínico e professor da Faculdade Santa Marcelina.

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