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Opinião
30/05/2013 - 12h00
Da inutilidade dos óculos
Dartagnan da Silva Zanela
 

Sejamos francos: atualmente há um fetiche em torno do ato de ler. Ao mesmo tempo em que se celebra a urgente necessidade de cultivar-se tal arte, despreza-se a mesma com uma indignidade tão dissimulada quanto feroz. E, quando cultivada, o é dum modo leviano como todos os modismos que são apresentados no frescor do momento. Modismo este que não ultrapassa a pose momentânea e desavergonhada com a qual nos apresentamos nos círculos de conversa fiada que, por esporte, amam encenar toda ordem de papos cabeça.

A desonra ao mérito chega ser apoteótica. Não em sua hipocrisia, mas sim, em seu cinismo. Sim, o brasileiro, dum modo geral, e os adultos de modo especial, não lêem e orgulham-se disso. Afinal, adultos são pessoas muito ocupadas com suas lides diuturnas e esse negócio de ler (literatura, principalmente) é coisa de gente desocupada. Quem ouve esses sujeitos falando imagina que eles puxam pedras em suas horas vagas pra descansar. Horas essas que se forem devidamente mensuradas revelarão a sua grande fartura e mau aproveitamento.

Santo Afonso de Ligório (e tantos outros), nos advertia sobre a forma como muitas das vezes nos entregamos as distrações, sejam elas reles passa-tempos inocentes ou a companhia de pessoas com as quais partilhamos nossas miudezas. Tanto as primeiras como as segundas nos arrastam para momentos vazios onde risos sem sentidos em misto com finalidades sem propósitos ocupam longas e longas horas de nosso precioso tempo. Preciosidade essa desperdiçada por nós sem a menor cerimônia ou pudor.

Nesta altura do campeonato pode ocorrer a uma e outra alma a pergunta: mas por que eu deveria ocupar uma parcela de meu tempo livre na leitura das obras da grande literatura universal? Veja bem, não é para progredir profissionalmente, nem mesmo para ter assunto para conversar com os seus pares. Aliás, aí mesmo que você não teria mais o que conversar com eles. A leitura das obras de grandes escritores é sumamente recomendada para que não mais sejamos como ordinariamente somos.

Ensina-nos G. K. Chesterton que a maior utilidade da boa literatura, reside em impedir que sejamos puramente modernos. “Ser puramente moderno é condenar-se à limitação; assim como gastar o último centavo que há na terra no mais novo lançamento [de qualquer coisa]. A estrada dos séculos passados está repleta de homens que morreram, mas que de certa forma continuam vivos. A literatura clássica e permanente cumpre sua melhor missão quando nos lembra continuamente o vigor da verdade e quando equilibra idéias mais antigas com idéias atuais, às quais, por um momento, podemos estar inclinados”.

Por um vício cognitivo, amamos muito mais nossas chulas opiniões do que a procura pela verdade, como lembra-nos Gustavo Corção. Elevamos as primeiras à dignidade da segunda, ato este que, por sua deixa, nos diminuiu em dignidade, prestatividade e bondade. E, gostemos ou não, a tendência geral é seguirmos ladeira abaixo, com nossa mesquinhez substancial dissimulada sob o fingido manto de dignidade ferida.

Resumindo: o problema não está tão somente em não sermos bons leitores, mas sim, em cinicamente fingirmos que o somos e, principalmente, dissimularmos que nos importamos com isso.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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