Segundo pesquisa apresentada à EERP, profissionais e programas de saúde devem dar atenção também aos parceiros soronegativos dos portadores do HIV.
O diagnóstico de que uma pessoa é portadora do vírus HIV não leva, necessariamente, à interrupção de sua vida afetiva e sexual. Esta constatação motivou a enfermeira Renata Karina Reis, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, a estudar a qualidade do relacionamento entre pessoas soropositivas e negativas, os conflitos envolvidos nessas relações e a questão dos métodos preventivos. Segundo a pesquisadora, os programas de tratamento e prevenção levem em conta a existência e as características desses relacionamentos. "O tratamento da Aids tem passado por rápidas transformações. Hoje, uma pessoa portadora do HIV ou que sofra de Aids tem uma vida mais longa. O estabelecimento e a manutenção de relacionamentos têm sido cada vez mais freqüentes", afirma Renata. A enfermeira entrevistou onze pacientes - sete homens e quatro mulheres - portadores de HIV ou Aids que mantinham relacionamentos estáveis com parceiros soronegativos. Todos os entrevistados recebiam atendimento numa unidade de tratamento em Ribeirão Preto. Renata conta que o primeiro conflito surge quando o paciente se depara com a necessidade de relatar sua situação ao parceiro. "Com o diagnóstico positivo, a vida sexual do paciente tende a sofrer modificações, geralmente rumo a uma piora. Alguns optam por manter apenas o aspecto afetivo. No entanto, em muitos casos a atividade sexual também se mantém", diz a pesquisadora, referindo-se a um segundo conflito: a vontade de se manter os hábitos anteriores contra o medo de contaminar o parceiro. Renata ressalta que a manutenção de um relacionamento depende de aspectos diversos. Quando o vírus é adquirido numa relação extraconjugal, por exemplo, a tendência é a separação. "Contudo, em questões como essa não é possível generalizar, pois envolve aspectos individuais e próprios de cada casal", ressalva a pesquisadora. Renata também verificou que os relacionamentos iniciados após o diagnóstico apresentam um número menor de conflitos. Prevenção A enfermeira afirma que um dos aspectos centrais de seu trabalho foi a questão da prevenção. Segundo ela, é preciso estimular o uso correto e constante de preservativos. "Além disso, o profissional de saúde deve trabalhar os aspectos positivos desse uso. Muitas vezes, o paciente vê a necessidade da prevenção como algo ruim, desqualificador". Em alguns casos, a pessoa se pergunta por que o parceiro não adquiriu a doença e questiona a necessidade de se usar preservativos. "No entanto, ainda não é possível definir quem apresenta, de fato, uma certa resistência ao vírus", alerta Renata. "Por isso, é importante estimular a prevenção em todos os casos". A enfermeira defende a criação de um programa de saúde voltado aos parceiros dos portadores de HIV/Aids e que dê atenção aos aspectos afetivos da vida desses pacientes. "É necessário olhar para essas pessoas de maneira diferente", diz. Ela recomenda que se estabeleça um trabalho multidisciplinar, que enfoque aspectos psicológicos e preventivos.
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