Quando se pergunta a um cidadão norte-americano o que foi feito dos índios do seu país, ele diz, sem nenhum constrangimento, que “se aculturaram e viraram cidadãos brancos”. Se o interlocutor argumenta com os massacres vistos nos filmes, diz tratar-se de “pura ficção de Hollywood”. Verdade ou não, é o que corre de boca em boca naquele país. E tem sua lógica, pois o índio, quando se acultura, por vontade própria ou por circunstâncias, faz a opção de viver a vida de branco, embora não seja obrigado e nem deva esquecer suas origens. Se formos verificar quem são os índios que hoje lutam por terras e promovem confronto com o governo e as instituições, acabaremos concluindo que não são índios na integridade do termo. São descendentes de índios, aculturados pelo governo, religiosos, assediadores políticos, garimpeiros, madeireiros, invasores de terras, caçadores, traficantes e até por guerrilheiros, que os afastaram de sua cultura original e não tiveram condições ou interesse de integrá-los efetivamente à vida da sociedade branca. O resultado é esse indivíduo confuso, dependente, dotado da idéia de ser grande credor da sociedade e portador do sonho de montar grandes “nações indígenas” dentro do território nacional. Ele não vive mais no seu estado natural - da caça, pesca ou extração - e possui aparelhos eletrônicos, veículos, armas de fogo e hábitos do branco, mas exige terra. Desde que o Estado Brasileiro tomou a bandeira de proteção ao índio, não conseguiu satisfazê-lo. Antes o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), criado em 1910, e depois a sucessora do SPI, Funai (Fundação Nacional do Índio), de 1967, sempre foram odiados por consideráveis parcelas dos silvícolas, sempre insatisfeitos com o que os órgãos e o governo lhes proporcionam. Existem, ao longo desse século, trabalhos que notabilizaram seus autores, podem ter atendido e até protegido aldeias e nações índias, mas não sensibilizaram o próprio índio, como indivíduo ou grupo social. Agora marchamos para um momento crucial. Os índios – ou seus descendentes – resolveram enfrentar o governo e a sociedade. Invadem propriedades particulares e obras governamentais, ateiam fogo, depredam, desobedecem ordens judiciais e se travestem de autoridades. O governo e suas autoridades têm o dever de encontrar uma solução. Não podem ocorrer intrigas palacianas como a de dias atrás, quando um ministro criticou o outro, por cumprir ordem judicial, e depois foi se explicar. Há uma tarefa a cumprir e não precisa ser, necessariamente, com o uso da força; melhor que não seja. Mas tem de ser cumprida, sob pena dos descendentes de índios, em vez de somar com a sociedade branca e nela viver, tornarem-se seus algozes e fatores de desequilíbrio social, até institucional. É preciso assimilar verdadeiramente o índio aculturado, dando-lhe as mesmas condições de vida oferecida ao cidadão comum. Os governos – federal, estaduais e municipais -, a justiça e a sociedade, pelos seus diferentes órgãos e instituições, têm o dever legal de garantir a propriedade, punir os que transgridem o ordenamento jurídico e proporcionar ao cidadão comum o ambiente salubre para viver, produzir e manter sua família. Os índios rebelados, os movimentos sociais exacerbados e os criminosos comuns que atacam, roubam, seqüestram e estupram, precisam ser contidos urgentemente. Eles colocam em risco até a própria democracia, pois não é esta a democracia que sonhamos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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