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Crônicas
19/06/2013 - 15h05
São João já está na rua
Rangel Alves da Costa
 

Moro no centro da capital sergipana, mas minha rua possui um deleitoso aspecto interiorano. Depois do anoitecer, quando já não há trânsito movimentado nem o barulho próprio da refrega cotidiana, então tudo fica numa calma gostosa e sentimental.

Nas noites de lua cheia, imensa, bonita, da porta de casa mesmo, ou do quintal, dá para apreciá-la aureolando o negrume estrelado. E que bela imagem. E saindo um pouco mais, caminhando pelos arredores, é possível sentir a aragem chegando de lá dos lados do Rio Sergipe, vindo da barra. Por aqui é tudo orla, tudo litorâneo.

Algumas senhoras colocam cadeiras nas calçadas para o proseado de todo dia, vizinhos vão chegando e só sabe Deus o que tanto conversam. A meninada corre de canto a outro, joga bola, faz reinação. A rua se torna de seus moradores. E que coisa admirável que continua assim.

Mas nesse mês a rua fica ainda mais bonita, mais animada, festiva. Ela é famosa pelos enfeites e ornamentos que recebe no período dedicado aos três santos juninos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Contudo, é mesmo durante o São João, nos dias 23 e 24, que a coisa realmente fervilha. Ora, juntando a nordestinidade com as delícias da época, então tudo se transforma numa festa só.

Ainda no mês de maio a moçada começa a preparar as bandeirinhas e outros ornamentos. São centenas de metros de flâmulas de todas as cores, recaindo mais no vermelho, amarelo, branco e azul. Balões também são confeccionados e os coqueiros já escolhidos para suas palhas serem retiradas.

Assim que o mês festivo se inicia, então a rua é logo enfeitada. Trabalho feito sempre ao anoitecer e noite adentro, assim que amanhece os olhos se encantam com aquele verdadeiro arco-íris flamejando, bailando ao sabor da ventania. Então, verdadeiramente, o espírito junino começa a tomar conta de cada um dos moradores.

Todo ano, infalivelmente, com mais suntuosidade ou não, sempre há apresentação de quadrilhas, de sanfoneiros, tudo num verdadeiro arraiá. O trecho da rua se enche de visitantes e curiosos, as calçadas ficam repletas de mesas e cadeiras, as fogueiras crepitam para assar o milho, a carne, o queijo. Fogos pipocam pelo ar, crianças soltam traques e chuvinhas, os vulcões vão subindo e espalhando pelo ar fagulhas douradas de contentamento.

As deliciosas gulodices se espalham por cima das mesas colocadas nas calçadas ou mesmo na rua. Bolo de milho e de macaxeira, arroz doce, mungunzá, canjica, pamonha, pé de moleque, beiju, amendoim, milho cozido e assado, pratos juninos os mais diferenciados. E também o churrasco, a carne assada no espeto.

E tudo isso acompanhado pela cerveja, pela pinga da boa, pela bebida maltada; mas também o vinho, o quentão e a batida. É um mês friorento em Aracaju, mas a bebida e as roupas juninas, com suas botas e chapéus, afastam de vez qualquer sinal de estremecimento. E não haveria nem como sentir frio, pois o forró chama ao remelexo por todo lugar. E quanto mais a sanfona geme mais a moçada se anima para o forrofiado.

Pena que seja apenas um mês assim. A rua enfeitada de toda cor, a ventania açoitando, os sons parecendo chuvarada caindo, o cheiro do milho e da pamonha, os fogos pipocando de canto a outro, um clima diferente pela cidade, principalmente na minha rua. E hoje já colocaram as lâmpadas em meio aos cordames das bandeirolas, amanhã os balões serão espalhados, em seguida as fachadas e postes serão ornados com palhas de coqueiros. Tudo para esperar os principais dias de comemoração.

De sexta-feira em diante São João pede passagem de vez. Quem gostar de comida junina que se prepare para engordar uns quilinhos; quem apreciar forró do bom que vá cuidando da sola do sapato. Quem não gostar de nada disso que me desculpe, mas é impossível ouvir o barulho dos fogos e as fogueiras crepitando e não sair na porta de casa. E assim acontecendo, duvido que não faça do espírito um verdadeiro arraiá.


Nota do Editor: Rangel Alves da Costa é poeta e cronista. Mantém o blog Ser tão / Sertão (blograngel-sertao.blogspot.com).

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