"Eu me sinto um passarinho", eu disse para ele. "Como assim, um passarinho?", espantado ele respondeu. E, calmamente, expliquei: "Me sinto um passarinho na gaiola. Um passarinho feliz, bonito, bem cuidado. E não estou preso! Minha gaiola fica aberta para eu ir onde quiser... Mas eu não vou. Estou sempre dentro da gaiola ou, quando muito, em volta dela". "E, ultimamente, tenho sentido tanta vontade de voar! Criar asas! Sair por aí afora conhecendo o mundo, novos lugares, novas cores e flores!" "Sei que posso sofrer. No primeiro dia fora da gaiola e - puff - encontro um gatinho... ’bye bye’ passarinho! Ou posso passar fome! Ou tomar chuva! Ou passar frio! Posso perder o rumo e nunca mais encontrar o caminho de casa, da minha gaiola." "Mas, mesmo pensando em todas essas coisas amedrontadoras, continuo querendo tanto voar!" E então ele me olhou com aquele jeito que só ele sabe fazer. É um olhar que diz tudo. Aquele olhar calmo, amoroso e amigo que diz que eu sou louca, mas a louca dele... De repente, ele me puxou num abraço e disse: "Você já voou e conheceu o mundo, passarinho! Agora, volta pra gaiola e seja feliz!"
|