Os alunos que já tive o privilégio de encontrar em cursos, palestras e eventos devem se lembrar dos meus constantes comentários sobre a incapacidade de indignação dos brasileiros, e que jamais veríamos a Avenida Paulista ocupada por movimentos que não fossem em prol da liberalidade sexual ou das drogas. Ainda, sempre fui contra (não ao esporte) à forma obscena pela qual o futebol inebria a cognição do povo e a sua capacidade de reflexão e manifestação. Uma total inversão de valores. Perdoem os que entendem de forma diversa, mas não podemos chamar de trabalhador alguém que joga futebol duas vezes por semana. Trabalho é a jornada exaustiva do povo brasileiro, que sua a camiseta cinco meses por ano somente para pagar impostos. Sofrimento é gastar horas viajando de casa para o trabalho e vice-versa, pagando altas tarifas por um transporte público indecente, que muitas vezes, trafega sem as mínimas condições de segurança para motoristas e passageiros. Pois justamente os gastos tresloucados com as Copas foi um (dentre dezenas de reivindicações) dos elementos catalisadores para a ocupação pacífica da Avenida Paulista, onde ouvi frases do tipo: "Brasil, vamos acordar! Professor vale mais que o Neymar". Não é à toa que o Brasil ocupa o penúltimo lugar no ranking de 40 países, divulgado pela revista Carta Capital, ganhando apenas da Indonésia, no que se refere à educação. No país do “metalúrgico presidente”, povo burro é mais fácil de dominar. Aliás, no Brasil se optou por conceder o voto ao analfabeto, ao invés de alfabetizá-lo, considerando que a escolha dele nas urnas tem o mesmo peso que a sua, neste instante lendo estas breves linhas. Pode até ser democrático, mas convenhamos, é imoral e injusto. Quanto vale termos a taça da Copa, mas não termos o básico do básico? Será que acordamos e agora rejeitamos o panis et circenses? Evidentemente que os atos localizados de vandalismo, saques e enfrentamentos são lamentáveis, realizados por oportunistas marginais, mas não menos desprezíveis que os políticos (temos as raríssimas exceções), que praticam diariamente os mesmos atos, de forma mais sofisticada, e dentro de gabinetes. Ambos são execráveis. E todos nós somos manifestantes, se pudéssemos também estaríamos lá, ombro a ombro, posto que todos temos sido achacados por esta gentalha dominante. Não sabemos ao certo onde isso irá parar, da mesma forma que ignoramos onde estão os políticos. Ou alguém viu algum pronunciamento do Renan Calheiros, de algum mensaleiro ou ainda dos nobres ministros Lewandowski ou Toffoli? Onde está o presidente da Câmara? Ainda, mesmo em meio às manifestações, alguns ainda comentem a loucura de aprovar a mais vexatória e absurda medida já vista: a “cura gay”. Ao menos tiveram o bom senso (quiçá medo) de suspender a votação da PEC 37, que tira o poder de investigação do Ministério Público. Vejam que o povo não precisou de partidos políticos para organizar e levar adiante as manifestações. A paciência esgotou e todos nós pedimos, no final das contas, apenas respeito ao cidadão, que carrega nas costas este País. Hoje dobro a minha língua! A Avenida Paulista finalmente foi ocupada! Entretanto, os baderneiros que quebram o patrimônio público, arrebentam e saqueiam lojas e incendeiam ônibus, estes não me representam! Nota do Editor: Alexandre Fuchs das Neves é advogado especializado em fomento mercantil e direito bancário.
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