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Crônicas
05/03/2005 - 20h08
Monocultura de sonhos
Helena Sut - Agência Carta Maior
 

O calor invade a estrada. O asfalto penetra os montes desnudos do Vale do Paraíba, queima o olhar... A exploração do café dos áureos tempos abandonou terras inférteis, vulneráveis aos olhares apressados, repletos de origens e destinos. Retalhos descoloridos da colonização, raízes que ressecaram as possibilidades do vasto território na realização de um presente distante.

O viajante se deixa aprisionar na repetida paisagem... Tédio. O trajeto parece não ter fim, retratado na desolada geografia, à margem da história de colonização e desenvolvimento. Algumas tentativas de reflorestamento são oásis no deserto de cores esmaecidas sob um sol escaldante...

A importância do período do café. A possibilidade de cultivar a semente lançada nas terras preenchidas de escravidão e poder. Monocultura do café e a geografia do tempo desenhado na árida paisagem...

Aproprio-me da metáfora para dar significado à cafeína da vida. O contínuo despertar para um novo dia com as expectativas renovadas em novos brilhos. Monocultura de sonhos... Períodos férteis para deitar as sementes e colher, repetição da plantação nos áureos períodos da juventude. O corpo na plenitude, imerso na beleza dos instantes, deixa sugar do território todo o alimento como se o presente se transformasse na eternidade.

Novas colheitas de sonhos... As sementes lançadas no chão já não amadurecem em frutos originais, murcham na superfície sem conseguir aprofundar a essência do que está sendo degustado...

O fluxo incessante da estrada ainda penetra as carnes desnudas. O corpo ressecado nas erosões do tempo, nas finitudes dos sonhos, é esquecido nos caminhos para os distantes e indiferentes vales férteis. A alma enterrada sob as colheitas passadas é a lembrança perdida de uma esperança sem legenda. Fissuras de um tardio erotismo, rugas que emolduram a geografia de um olhar sem brilho...

Semear o sonho do encontro ideal pode enfraquecer o encontro de homens e mulheres verdadeiros, almejar a colheita da plena felicidade pode iludir o olhar e esconder o brotar de alegrias e prazeres das estações menos dotadas...

Além do horizonte, o florescimento virginal, úmido e selvagem, é cortado pela árida paisagem de um espelho futuro. Vaticínio de qualquer monocultura, percepção extemporânea do empobrecimento do próprio solo.

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