O Brasil ganhou da Espanha e levou o caneco. O Governo e o Congresso discutem a reforma política, que pode envolver plebiscito ou referendo. Um deputado condenado já foi preso. Câmara e Senado correm para votar projetos há muito tempo engavetados. Tudo isso é novidade, mas não atende ao clamor da população, que continua saindo às ruas, bloqueando rodovias e até provocando distúrbios para fazer suas necessidades chegarem aos ouvidos moucos dos governantes e daqueles que puderem fazer algo por mudanças. Prefeitos e governadores – como os de São Paulo – voltaram atrás no reajuste das passagens de ônibus e metrô, causa do estouro da insurreição, mas além de preços, têm de garantir o funcionamento do serviço, inclusive a manutenção de horários. E o povo ainda reivindica a tarifa zero, durante muito tempo prometida principalmente em campanhas eleitorais. Mas, além disso, os governantes e seus auxiliares não podem se esquecer que também prometeram Saúde, Educação e Segurança e, depois de eleitos, muitos ousaram na veiculação de propagandas mentirosas, que deram a idéia de que tudo funciona às mil maravilhas. A única propaganda que deveria ser admitida nesses cruciais setores - que são obrigações constitucionais dos governos - é a da clientela satisfeita. Em vez de produzir e veicular o material eleitoreiro e fantasioso, deveriam ser mais responsáveis e garantir que o paciente tenha atendimento imediato nos serviços de saúde, o pai encontre vagas nas escolas e creches para seus filhos e que o ensino seja eficiente. Nenhuma autoridade deveria esquecer a promessa de prover a temerária Segurança Pública. Há de se entender que não basta só contratar policiais, comprar viaturas e armamento. É preciso política de governo e instituições que comece pela prevenção, passe pela repressão e jamais negligencie na tarefa e apenamento daqueles que cometem ilícitos. As instituições têm de funcionar de forma harmônica, eficiente e com recursos suficientes para cumprir sua missão. A família tem de ser prestigiada como instituição. A máquina pública precisa apoiá-la e dela cobrar sua participação através da paternidade e maternidade responsáveis e outros requisitos que se perderam com o tempo. Há de se fazer tudo para evitar que o jovem, especialmente, seja cooptado para o crime. Mas se, mesmo assim, ele delinquir, tem de sofrer a devida reparação social e penal. Os manifestantes brasileiros - os de rua e também os de sofá, que apóiam os primeiros - querem soluções imediatas. Exigem para já o fim da corrupção, a punição dos corruptos e a aplicação dos recursos público, que deixarão de ser carreados à bolsa dos ladrões, em serviços de qualidade que justifiquem a alta carga tributária nacional. Se essas exigências básicas não forem atendidas, os níveis de popularidade de governos e governantes continuarão caindo vertiginosamente e eles, fatalmente, não terão condições de continuar em seus postos. Depois de tanto tempo ignorando o povo, que agora reagiu, a classe política tem de, a exemplo da clássica mulher do imperador romano (que além de honesta tinha de prová-lo), provar que está trabalhando, e oferecer demonstrações concretas desse trabalho à população... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|