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Crônicas
07/03/2005 - 07h05
Oscar: mais previsível do que surpreendente
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Cinema é uma problemática combinação de indústria e arte. Problemática porque o sonho da indústria é obter o previsível: se investirmos tanto, lucraremos tanto. O sonho da arte é o imprevisível, o inusitado, o surpreendente. O Oscar tenta, ao menos em parte, recuperar o lado artístico do cinema, mas sem chegar às últimas conseqüências. Ao contrário da exposição dos impressionistas ou da Semana de Arte Moderna de São Paulo, não é um evento revolucionário, ainda que não faltem aos filmes concorrentes uma razoável dose de talento e bastante competência. Do Oscar não se pode esperar surpresas. Mas pode-se esperar um retrato, ao menos parcial, da sociedade norte-americana. Este ano, os retratos correram à conta das cinebiografias, um gênero que está na crista da onda.

Além de Alfred Kinsey, dois personagens da recente história americana geraram filmes, Howard Hughes, retratado em O Aviador, e Ray Charles. Um branco, outro negro, um oriundo de um meio afluente, outro vindo da pobreza, eles, à primeira vista, pouco têm em comum. Na verdade são mais parecidos do que diferentes. Ambos perseguiam o sonho americano, um sonho de sucesso e de riqueza; mas ambos eram impulsionados por seus próprios talentos, a música no caso de Ray, a vocação empresarial no caso de Hughes. Ambos viveram intensamente suas paixões, ambos tiveram várias mulheres. Ambos tinham um lado doentio. Hughes era um obsessivo-compulsivo típico, com seus estranhos rituais de limpeza e ordem; Ray era viciado em drogas. Ray conseguiu superar seu problema, Hughes foi ficando cada vez mais estranho e recluso, numa franca manifestação de doença mental. É muito significativo, aliás, que o filme exclua a decadência final em que se transformou sua vida.

Ao fim e ao cabo, ambos os filmes falam dos Estados Unidos; ambos explicam por que o país se tornou a potência hegemônica em nosso mundo. É uma sociedade que perseguiu os negros, mas que dá oportunidade aos negros; que marginaliza as figuras estranhas, mas ao mesmo tempo aceita figuras estranhas, desde que estas se mostrem capazes de vencer na vida, como aconteceu com Ray e com Hughes. A cegueira e a droga não foram obstáculos para a música de Ray Charles; a obsessão de Hughes impulsionava-o em projetos não raro megalomaníacos, como o gigantesco avião que ele criou e que se revelou um fracasso.

E os dois filmes têm a ver com a própria trajetória da indústria cinematográfica, à qual Hughes esteve ligado. Porque o cinema começou como uma atividade marginal, uma curiosidade tecnológica que a aristocracia americana (uma aristocracia do dinheiro, bem entendido) desprezava. Imigrantes empreendedores fizeram dessa diversão de pobre a base de um verdadeiro império que se estende pelo mundo inteiro e faz com que milhões de pessoas assistam à entrega do Oscar. A premiação deste ano reprisa a fundamental mensagem americana: é preciso lutar. Lutar no campo de batalha ou lutar para levar filmes às telas. Convenhamos que a segunda opção é bem melhor. Mereceria até um Oscar.

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