Surge a notícia de que os EUA espionaram empresas e gente importante do Brasil. Não é coisa que surpreenda, pois os yankees são useiros e vezeiros em bisbilhotagem e colocação do bedelho em lugares que não são chamados. Ingênuo é quem tem algum tipo de relação com empresas ou instituições norte-americanas e pensa não ser alvo de escutas ou outras atividades indiscretas. Cabe ao governo e às autoridades brasileiras tomar providências para que o atrevido irmão do norte não venha aqui colher informações estratégicas e, muito menos, dizer o que devemos ou não devemos fazer. É compreensível que as potências tenham seus olhos voltados para todo o mundo, para evitar que venham a ser atacadas da forma que já aconteceu algumas vezes. Mas isso não as autoriza a invadir países, instituições e a vida de cidadãos de outras nações. Sempre que o fizerem, merecem toda a repulsa e a denúncia aos organismos internacionais para que providenciem a penalização e, principalmente, evitem a repetição da irregularidade. Ações clandestinas de um país sobre o outro ferem os princípios da soberania nacional, que são inegociáveis. Os norte-americanos têm todo o direito de se precaverem contra ataques ao seu território ou representações ao redor do mundo. Mas isso não lhes dá a condição de intervir em países regularmente constituídos. Nos tempos da guerra fria, o mundo era vítima da bipolarização, onde direita e esquerda, representadas pelos EUA e URSS, lutavam pela hegemonia. Hoje tudo isso acabou. Mas, infelizmente, não findou ainda o vício dos “gringos” de se intrometerem na terra dos outros. Isso precisa ter um fim. O Brasil, se encontrar indícios de violação legal nas espionagens realizadas pelos EUA em relação a empresas e cidadãos brasileiros, tem o dever de recorrer aos foros internacionais em busca de reparações. Não podemos correr o risco de ingerências como as de 1964, quando o governo de Washington empregou suas forças para o desfecho da crise política local. E muito menos, não podem tolerar que segredos comerciais e industriais sejam roubados e repassados a concorrentes de nossas empresas e centros de pesquisas. Nenhum alienígena tem o direito de se meter em nossa vida, seja ele de esquerda ou de direita. Nós precisamos ter condições de resolver, por conta própria nossos conflitos. É importante lembrar que a questão da espionagem é apenas uma denúncia. Não pode servir para desviar a atenção do governo e da sociedade em relação às reivindicações que vêm das manifestações populares. Se o clamor das ruas não for ouvido, o governo, os políticos e a sociedade pagarão um preço muito alto por isso. Portanto, a prioridade deve ser a solução para saúde, educação, combate à corrupção e outros problemas que levaram o povo às ruas. A espionagem do Tio Sam e outras coisas do gênero devem ser combatidas, mas não podem ocupar o tempo todo. O único Big Brother que devemos admitir é o da televisão e, mesmo assim, com uma série de restrições... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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