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Opinião
07/03/2005 - 09h15
Quem é negro no Brasil?
Raymundo Negrão Torres - MSM
 

Um dos passos mais importantes na transição para o socialismo, dentro da estratégia gramscista atualmente adotada por ponderável parte de nossa esquerda, é a chamada "superação do senso comum". Ora, o senso comum da sociedade brasileira, nada mais é que o conjunto de valores, tradições, costumes, modo de pensar e agir, conformidade religiosa e social, sentimentos - vale dizer Cultura - que nos têm proporcionado coesão interna e apreciável consenso na resistência a exóticas mudanças ideológicas.

Dentro desse enfoque, percebe-se porque, em tempos de revisionismo histórico comandado por motivações ideológicas e políticas, um dos pontos mais visados é a apontada democracia racial brasileira, contestada, num esforço - este sim, racista - de nos apresentar como preconceituosos e discriminatórios, do que a persistente e equivocada tentativa de implantação de cotas raciais para ingresso nas universidades é o exemplo mais atual.

Procura-se ignorar que nosso racismo - quando e onde existe - é individual antes que cultural e mais encontradiço em áreas de colonização não portuguesa. A discriminação e a segregação no Brasil têm fundo econômico e social, como já o constatara o poeta da música popular que exaltou em seu samba "a moça branca da favela". E isso é mais fácil de corrigir que o ódio racial que existe na rica terra de Tio Sam e que querem trazer para cá.

Aí, como em muitos outros pontos, vemos exercitado amplamente o que Nelson Rodrigues chamava de "narcisismo às avessas". Tudo é motivo para, afoita e erradamente, cuspirmos na imagem de nosso país e certas organizações exibirem um racismo que ignora uma pergunta elementar: quem é negro neste Brasil de tantas nuanças? Qual o critério para dizer que alguém é "afro-descendente"?

Já o dizia, com grande autoridade para fazê-lo, o escritor e jornalista baiano Luiz Gama, filho de uma escrava alforriada, Luiza Mahim, personagem lendária da Revolução dos Malês de 1835, na Bahia. Disse ele: "Meu pai não posso dizer que fosse branco, porque tais afirmações, neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas...".

Gilberto Freyre constataria em seus estudos que nunca houve barreira intransponível entre a Casa Grande e a Senzala. Outro tanto se pode dizer dos mamelucos, presença humana importante desde os tempos seiscentistas, do Bacharel de Cananéia, de João Ramalho e de Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru. Evidência registrada por Robert Southey ao final do tomo IV de sua História do Brasil, quando destaca a ausência de castas na América portuguesa, dizendo:

"Tão respeitável, tão elegível para todos os cargos era o mameluco como o homem de sangue inteiro, como o natural da mãe-pátria. Nenhuma lei degradava o mulato ou o negro livre, nem tampouco a opinião pública o fazia. E assim se ia operando silenciosamente essa amalgamação de castas e cores, que quaisquer que sejam as convulsões pelas quais tiver de passar o Brasil, o livrará da mais cruel das guerras civis."

A essa constatação não escaparam nem os biógrafos do padre Antonio Vieira, cuja personalidade ficaria marcada pela herança racial de uma bisavó africana, escrava levada para Lisboa, e por cuja filha o avô do autor dos Sermões se apaixonaria, dando lugar a um casamento com grande escândalo para a época.

A cópia servil e caricata de certos americanismos - como essa fixação de cotas para os ditos afro-descendentes nas universidades e no serviço público, que já se está fazendo -, além de ser uma discriminação que atinge os brasileiros de outras origens raciais, é uma contrafação que não serve à Nação Brasileira. Esta, em sua gênese política, econômica e sócio-humana é, sem qualquer ufanismo barato, um exemplo ímpar no mundo e completamente diferente da americana do norte.

Tendo vivido certo tempo nos Estados Unidos da América, tenho meditado muito sobre as falácias que aqui se querem criar a respeito de nossos negros e índios e alegro-me de termos tido outra formação cultural que nos legou certos defeitos e desvios, mas que nos preservou do ódio histórico que divide fundamente a sociedade ianque e que hoje interesses ideológicos e políticos tentam artificialmente criar, tentando importar certos traços alheios à nossa base multirracial.

Outra incongruência existente nesse racismo às avessas é a tal expressão "afro-descendente". Tal critério racial incluiria os descendentes de egípcios, marroquinos, líbios, argelinos, angolanos e moçambicanos brancos e os descendentes de "africânderes e bôeres"? Ou só se refere aos afro-descendentes de raça negra e suas mestiçagens?

Além disso, quantos vestibulandos, com nota superior a cotistas raciais, deixaram de ingressar na Universidade do Paraná no recente vestibular em razão de considerações de raça e cor, vedadas pela Constituição Brasileira?

Não importam as afirmações em contrário. O sistema de cotas adotado pela UFPR é racista e a própria estatística apresentada por seu Magnífico Reitor, surpreendentemente, mostra que favoreceu 7% de vestibulandos, ditos negros, cujas famílias têm rendimentos superiores a cinco mil reais.

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