Os sindicatos e outros segmentos descontentes voltaram às ruas (e estradas) nesta quinta-feira. As reivindicações são diversas, mas todas se resumem nos pedidos que desde o início da rebelião popular são colocadas à mesa: saúde, educação, transporte público e gratuito, trabalho digno e, principalmente, o fim da corrupção e da impunidade. O Governo, doutorado em marketing político, depois do sofisma do plebiscito, investe na reforma política. O Congresso, sem tocar no fundamental, vota, a toque de caixa, projetos que há anos dormiam em suas gavetas. O povo ainda não sentiu concretamente o atendimento de suas reivindicações. Os prefeitos, próximo alvo das manifestações, acordaram e pressionam por mais recursos, vaiaram a presidente. Importantes setores sociais manifestam seu descontentamento e preocupação. Dilma, Renan Calheiros, Henrique Alves e o próprio Joaquim Barbosa - presidentes da República, do Senado, da Câmara e do STF - precisam manter seus ouvidos afinados aos reclamos que vêm da “polis” para, interpretando-os, conduzir da forma mais adequada seus pares e subordinados. De nada adiantará falar em forma de governo, financiamento público ou privado de campanha e demais perfumarias que só interessam à corte, quando o que o povo quer é garantia de atendimento nos hospitais e postos de saúde, vagas nas creches e escolas e a manutenção do sagrado direito de ir e vir, hoje prejudicado pela presença dos sanguinários bandidos que assaltam, seqüestram e matam. E o povo, angustiado, não pede nada mais do que é de seu direito. As discutíveis “bolsas” que o governo distribui não são suficientes para aplacar o sofrimento da população. Elas podem até resolver a fome aguda, mas não socorrem a grande parcela do povo, composta por trabalhadores e cidadãos da classe média, que não precisa da esmola social, mas carece dos serviços públicos, muitos deles fixados como direito constitucional, um direito há muito inexistente. É muito comum o detentor do poder e sua “entourage”, que vivem sob o ar-condicionado de seus gabinetes, não ouvirem o que diz o povo na rua. O clamor não chega até eles e, quando chega, passa por filtros de contumazes puxa-sacos que, com medo de perder a boquinha, evitam “irritar o negligente chefe”. Por conta disso, não foram poucas as vezes em que vimos governantes e lideranças fazendo pronunciamentos eleitoreiros e completamente divorciados da realidade do povo. Muitos deles só se deram conta do erro quando perderam o poder. As manifestações têm de ser ouvidas e, na medida do possível, atendidas. Do contrário, elas se multiplicam e levam à crise o governo e as instituições. Mais ou menos como um barco a navegar, se leva um tiro no casco, ainda pode ser consertado; mas se levar 10, 20, 30 ou mais ao mesmo tempo, vai a pique. A maioria dos brasileiros não quer o naufrágio, mas os timoneiros do “barco Brasil” precisam ter habilidade para evitar o tiroteio e, além disso, não trombar com os arrecifes... Sensibilidade e muito juízo são fundamentais nessa hora... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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