Quando ele virou a esquina de bicicleta arrastando o fio no chão senti a triste sensação que estava sendo retirado de mim o bem mais precioso da minha vida. Como viver sem o Ratinho, Datena e o R. R. Soares? Impossível sem televisão. Sai atrás do meliante e com a tranca do carro e a carteira da Ordem na mão dei voz de prisão. - Você está preso em flagrante delito pelo crime de furto previsto no Código Penal, subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel com pena prevista de um a quatro anos e multa. - Pô tio! - Tio? Como posso ser tio de um sobrinho desconhecido e ladrão? (*) (*) Expressão copiada do lendário inspetor de polícia de Porto Alegre conhecido por Tio Zuza que nos interrogatórios na delegacia de furtos perguntava. Como é meu nome? Os que tinham coragem respondiam: Tio Zuza! Levavam um insignificante tapa no ouvido como resposta e a expressão: Como é que eu vou ser tio de ladrão! - A casa caiu pra ti malandro! - Caiu? Tu sabes que a delegacia aqui não abre aos fins de semana. - Não abre? - Que nós temos que ir para o município vizinho e o delegado só vai aparecer depois de quatro ou cinco horas para o flagrante. - E tem mais a viatura da delegacia esta enguiçada no pátio. - Sem falar que penitenciária da região está interditada pela justiça. - Então eles vão me mandar para o Instituto Penal, aquele que tem a facilidade de entrar e sair quando bem entender do preso. - E ainda tu vai ter que vir no fórum para me reconhecer e ser ouvido, ou seja, mais transtorno e gasto, além do conserto da janela arrombada. - Acho bom tu repensar em me entregar pros homens! - E tem mais. - Tu viste o tal do Pibinho, inflação e os juros no Brasil? - É tens razão! - E a farra com os jatinhos da FAB? - Chega! Você está me deprimindo fica com a televisão e caso encerrado. - Desculpa vai! - Se tiver algum problema com ela tu me avisa que a gente procura o Procon afinal temos que fazer valer nossos direitos. Não é mesmo? Nota do Editor: Ronaldo José Sindermann (sindermann@terra.com.br) é advogado em Porto Alegre, RS.
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