Mais de uma centena de cidades norte-americanas registram movimentos “occupy”, onde manifestantes ocupam ruas, praças ou até repartições públicas como forma de defender suas teses. Suas exigências podem ir desde o conserto de um simples buraco na rua até a mudança da política econômica do país. Esses protestos se alastram pelo mundo, inclusive o Brasil. São manifestantes que, por exemplo, discordaram da absolvição do branco que matou o negro na Flórida, exigem a redução das tarifas de transportes, melhoria nas escolas, saúde e serviços públicos e até tentam impedir a execução de uma obra, como o aquário que a prefeitura de Fortaleza (CE) quer implantar na praia. No Oriente Médio, o povo, mobilizado, já destituiu vários governos e ainda derrubará outros. As insatisfações, oriundas da negligência ou má fé dos governantes, brotam em todos os quadrantes do planeta, nascidas no seio da população, sem liderança e nem teses definidas como no Brasil, especialmente. Parece que o povo, cansado do distanciamento, da exploração e do menosprezo que durante anos recebeu da classe política, interessada exclusivamente no carreirismo e na luta pelo poder, decidiu mostrar sua força e fazer valer o verdadeiro princípio da representação, onde o eleito deve exercer o mandato com a força emanada do povo e em seu benefício. Da mesma forma que os manifestantes exigiram e conseguiram a revogação dos últimos reajustes das passagens de ônibus, é certo que continuarão lutando pela tarifa zero, pela disponibilidade de vagas e atendimento nos caóticos hospitais, escolas e outros serviços públicos e por outras teses do seu interesse como o combate à corrupção e impunidade que grassam em nosso país. Os protestos contra os excessivos gastos para a realização da Copa do Mundo não deverão parar, assim como devem recrudescer os questionamentos sobre concorrências, valores pagos por pontes, estradas, prédios e outras obras públicas. Com certeza, as acusações que os grupos políticos são acostumados a trocar, não cairão mais na passividade popular e muito menos irão para a pauta da impunidade. Assim como exigem a prisão dos mensaleiros condenados, as massas também irão às ruas ao tomar conhecimento de outros malfeitos, exigindo a punição dos envolvidos. Essa disposição do povo de se manifestar e exigir o seu direito e a boa gestão dos serviços públicos tende a proporcionar ao país um grande salto de qualidade. Os administradores e as autoridades em geral não poderão ficar acomodados e cuidando apenas dos interesses próprios e corporativos, pois o povo os acuará e, na falta de soluções, invadirá seus confortáveis gabinetes. Inúmeras ocupações de prefeituras estão prometidas para os próximos dias por grupos que querem ver atendidas suas reivindicações. Determinados, vão marchar rumo aos prefeitos e vereadores do interior, pois são eles as autoridades municipais que, em razão de seus cargos, podem tomar providências locais e, como membros dos partidos políticos, têm condições de pressionar com eficiência os detentores do poder nas esferas estadual e federal. Oxalá toda essa mobilização seja o começo da conscientização popular pelo melhor exercício do direito de voto. Será muito bom para o país o dia em que o povo tiver plena consciência da força do seu voto e, com sua disposição, exigir o devido respeito por parte dos eleitos. Dependendo dos próximos passos, as mudanças que apenas começaram poderão ser mais significativas do que as de 1968, o ano que mudou tudo na ordem mundial do século passado. O momento é delicado e exige muita atenção e responsabilidade daqueles que não querem perder o bonde da história... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|