Ela tem 19 anos, chama-se Mariana e encara hoje o seu primeiro emprego, como copeira. É uma menina com corpo de menina, um pouco franzina, muito nívea, e simpática. É quem eu cumprimento, pela manhã, quando vou buscar o primeiro café do dia, na copa. É quem vejo aqui e ali, fazendo o seu trabalho, agora do meu lado, quando vem recolher o lixo da minha mesa. Pede licença baixinho, agacha-se, pega o cesto e o recipiente para o papel que se vai reciclar. Sempre procuro ajudá-la nesses momentos, abaixo-me também e passo por cima da minha resistência, do meu certo nojo a lixo, ajudando-a na tarefa. Já notara uma aliança dourada em seu anelar esquerdo, mas recusara-me a crer que fosse casada. No máximo noiva, pensara. Simplesmente ignorara a evidência. Mas, hoje pela manhã, decidi puxar conversa com ela. É casada, sim, e já faz tempo: desde os 15 anos. E já tem também uma filha, chama-se Stefane, agora com 3 anos. Mora longe, em Franco da Rocha, município da Grande São Paulo, leva 1 hora e meia para chegar até aqui, sai de casa às 4h20 da manhã, quando a filha não acorda e enche a jovem mãe de tanta pergunta... "Ela é muito inteligente, quer saber tudo." O marido é certamente um bom marido. Dez anos mais velho que ela. "Se fosse mais jovem, talvez a gente não desse certo. A gente é muito caseiro." É ele, ao lado da filha, que vai de carro buscá-la na estação de trem todas as tardes, quando retorna cansada da longa jornada diária. "Ele fica com pena de mim." Teria de caminhar cerca de 20 minutos, se não fosse ele. É seu primeiro emprego, e sinto-me na obrigação quase paterna de garantir que ela tenha um bom início em sua vida profissional. Sinto uma ternura tão grande, uma vontade de protegê-la, de evitar que abusem de sua ingenuidade, que a tratem mal. É preciso, é fundamental que tenha um bom começo, que debute bem e feliz. Tenho certeza também de que esse sentimento nasce de uma profunda identificação: a menina que amo, minha namorada, tem também 19 anos, está começando a vida e, como a Mariana, é uma moça trabalhadora. Se ela viesse de trem, estaria também todas as tardes a esperá-la, como o bom marido da Mariana, para que não se cansasse mais do que já foi obrigada a se cansar. Já sou um cavalão e quero poder me antecipar aos problemas de meu amor, recolher as pedras de seu caminho e pôr doces no lugar, para que possa passar doce e contente, sem sobressaltos. Muito me apraz cuidar de meu amor, acolhê-la, ampará-la. Falar para ela as palavras mais ternas e doces, palavras para fazer sonhar, para erigir castelos, lugares bonitos, palavras intocadas pela voracidade e perversidade dos homens. Fazer de tudo para preservar meu amor, preparar seu jantar, seu café da manhã com alimentos frescos, leves e nutritivos, minha menina precisa conservar a saúde. E olhar por ela tão bem quanto olho por mim, acho que até melhor. E quando triste, colocar um nariz de palhaço invisível e fazer palhaçada, mais que aquelas que normalmente faço sem notar, e vencê-la pela insistência, não pela graça. "Como você é sem noção", diria ela mais uma vez, por fim, com um novo sorriso nos lábios. E ao vê-la de novo feliz, como ontem e amanhã, poder me comover, orgulhoso por ver minha menina ir adiante na vida, minha menina ser mulher na vida. Meninas-mulheres: que a vida lhes seja sempre leve, que conserve na mulher a ingenuidade, a espontaneidade, a doçura e a graça da menina. E que uma força boa, superior, quem sabe Deus, proteja sempre vocês, in high tide or in low tide.
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